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O mal-estar eleitoral
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Cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Autor de vários livros que abordam o comportamento do eleitor. Membro do Grupo de Pesquisa Comunicación Política e Comportamento Electoral en América Latina. Atualmente desenvolve pesquisas qualitativas e quantitativas de Opinião Pública

O mal-estar eleitoral

O que é demasiadamente relevante é identificar os desejos e sentimentos dos eleitores para com a eleição. São eles que dão identificação à configuração emocional presente no conjunto dos votantes
Pesquisa eleitoral (Foto: Lukas/Pexels)
Foto: Lukas/Pexels Pesquisa eleitoral

Diante de tantas pesquisas de intenção de voto, não custa nada parar e olhar atentamente para o mal-estar dos eleitores. Especificamente, se ele existe e o que o motiva. Não são os porcentuais de voto de um candidato que dirá o que tende a acontecer nas eleições vindouras. É a configuração emocional majoritária presente no eleitorado que tem poder de apontar tendências eleitorais vindouras.

Neste instante, esqueça nomes. Não importa se o candidato opositor ao lulismo será Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ratinho Júnior, Eduardo Leite, Rogério Marinho e Ciro Gomes. O que é demasiadamente relevante é identificar os desejos e sentimentos dos eleitores para com a eleição. São eles que dão identificação à configuração emocional presente no conjunto dos votantes.

Existe mal-estar na sociedade brasileira. Pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência revelam que sentimentos de insegurança pública, carestia de alimentos, alta carga tributária, má qualidade do transporte público, falta de atendimento eficiente da saúde pública, corrupção e radicalismo estão presentes no eleitorado. Contudo, isto não significa que as reclamações (sentimentos) conduzirão plenamente os eleitores a votarem em candidatos da oposição.

O mal-estar é preditor eleitoral. Mas não desprezo a complexidade do eleitor. Artur pode reclamar intensamente da saúde pública, mas acredita que o único que faz pelos pobres é o atual presidente da República. A senhora Rita revela indignação com a insegurança, todavia, acredita que quem tem mais “obrigação” de oferecer segurança eficiente é o governo do Estado. O jovem Vital relata as reclamações diárias dos seus pais com a inflação de alimentos. Porém, acredita que o lulismo traz mais oportunidades para os pobres do que o bolsonarismo.

Por outro lado, Seu Paulo reclama que paga muito imposto e não tem segurança. Por consequência, votará no candidato da oposição. Dona Silvia culpa a alta de impostos pela carestia de alimentos e revela desejo de mudar o presidente da República. A jovem Mariana não acredita nos políticos, reclama da corrupção e não vota no PT em virtude do escândalo do INSS.

Apresentei duas configurações emocionais concorrentes que estão presentes entre os eleitores. Através do monitoramento e da interpretação delas procuro identificar previamente o voto do eleitor para presidente da República. O mal-estar entre os votantes existe. Todavia, apesar do mal-estar, o eleitor sempre encontra argumentos para justificar o seu voto no governo ou na oposição.

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