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Coordenador do Esportes O POVO. Jornalista curioso sobre os bastidores do mundo da bola e apaixonado pelo jogo nas quatro linhas

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Convidado de honra em evento de treinadores brasileiros, Carlo Ancelotti foi vítima de cena constrangedora pelas falas de Oswaldo de Oliveira e Emerson Leão
Tipo Opinião
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Carlo Ancelotti esteve no 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, na sede da CBF (Foto: Jo Marconne / CBF)
Foto: Jo Marconne / CBF Carlo Ancelotti esteve no 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, na sede da CBF

Nessa terça-feira, 4, a CBF sediou o 2º Fórum Brasileiro de Treinadores de Futebol. O que deveria ser uma oportunidade rara para discussões por avanços e trocas de experiências entre profissionais de diferentes gerações e realidades se tornou um momento de constrangimento pelo pensamento tacanho de parte dos técnicos do País.

Comandante da seleção brasileira desde maio, Carlo Ancelotti era o principal nome do evento — e foi até homenageado. Mas a reverência ficou ofuscada diante do que o italiano teve de ouvir de Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira — e teve de se manter incólume, já que ainda estava no palco, a poucos passos de distância.

Leão puxou um pensamento em retrospecto: "Não gosto de treinadores estrangeiros no meu país". Instantes depois, ponderou que "nós, treinadores, somos culpados da invasão de outros treinadores, que não têm nada a ver com isso. Não estamos falando de nome, não estamos falando de nacionalidade", amenizando.

É curioso o ex-goleiro, que marcou época no Palmeiras e disputou duas Copas do Mundo como jogador, revelar que não queria estrangeiros à beira do campo no futebol nacional porque ele já esteve do outro lado da moeda — e do mundo. Leão dirigiu três clubes no Japão e um no Catar. Certamente deixou a conta bancária mais robusta por lá e, pelo estilo explosivo, teria reagido de forma hostil se tivesse ouvido isso de um técnico asiático.

Mas o que provocou reações foi o discurso de Oswaldo de Oliveira. Em tom inflamado, bradou que "torci para ser esse senhor", apertando a mão de Ancelotti, referindo-se à escolha de treinador do Brasil.

Ato contínuo aos aplausos, no que parecia um clima cordial, Oswaldo clama: "Tomara, Insha'Allah, nós cheguemos a ter novamente os treinadores brasileiros brilhando, dirigindo os clubes, e quando, é claro, o Ancelotti for embora, depois de ser campeão no ano que vem, que volte um brasileiro para a seleção".

A exemplo do colega, ele também já foi o treinador estrangeiro ao longo da carreira. Ainda como preparador físico, teve longa passagem no Al-Arabi, do Catar; depois, foi auxiliar da seleção da Jamaica. Como técnico, comandou times dos Emirados Árabes, do Japão e do Catar.

As opiniões da dupla parecem ser uma mescla de conservadorismo, reserva de mercado e ignorância. Mas não ganharam muito eco: Alfredo Sampaio, dirigente da Federação Brasileira de Treinadores de Futebol, que também ouviu os discursos do palco, repudiou a fala de Oswaldo; Leonardo e Falcão, ambos ex-jogadores e treinadores com história na Itália, criticaram a postura.

Felizmente, a linha de raciocínio destes grandes pensadores do futebol tem sido cada vez mais dissipada: na Série A, dos 20 clubes, nove têm treinadores estrangeiros. Há técnicos bons e ruins em todos os países, assim como no Brasil, mas a nacionalidade não pode ser um fator determinante para o "sim" ou para o "não" na escolha.

Foto do Afonso Ribeiro

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