.ENQUANTO a bola rolava, ontem à noite, Castelão, para Ceará 2x0 CSA, acabando com a banca do distinto, pela Copa do Nordeste que repete, pelo terceiro ano consecutivo, o mesmo filme dos anteriores, isto é, mesma fórmula, quase os mesmos personagens.

.AINDA assim melhor, ou menos ruim, do que não se ter nada para ver. Modelo de disputa várias vezes repetida — exceção feita ao Brasileirão — chega um momento que cansa a beleza.

- ALIÁS, ao olhar atento do torcedor, o Nordestão não empolga e maioria deles nem toma conhecimento da sua existência. Como se estivesse ali apenas pra preencher um espaço vazio, pra não dizer inútil.

.NORDESTÃO já teve seus tempos áureos, mas aquilo que é repetido todos os anos acaba perdendo a graça. Pelo seu histórico, sabe-se que Ceará é atual campeão e o Fortaleza foi logo antes. A prenda maior ao vencedor, afora as cotas de participação, é ganhar vaga em fase avançada da Copa do Brasil do próximo ano.

.COPA do Brasil vem a ser aquele torneio onde todo bicho de orelha entra, atingindo a casa dos 90 clubes. Fiquem aí a imaginar a parafernália de jogos, com delegações zanzando de um lado para o outro, jogando nos mais diferente locais. Vejam o caso do Ferroviário recentemente que, pra enfrentar o Porto Velho da Rondônia, a CBF marcou o jogo para Duque de Caxias, no Rio.

SEM PÉ, NEM CABEÇA

.COMPETIÇÃO chega a ser sem pé nem cabeça. E quem tentar se arriscar e entendê-la, favor nem tentar. Poderá bater com os costados no primeiro manicômio que encontrar pela frente. Aliás, todos sabem, já foi dito aqui reiteradas vezes, que a Copa do Brasil foi criada para agradar as federações, poderoso colégio eleitoral, estribado no qual o presidente da CBF pode se perpetuar no cargo. Caboclo segue este mesmo caminho mal cheiroso dos seus antecessores.

.PARA os clubes pode até ser, porque as cotas são gordas. A CBF nada em dinheiro, e, mal comparando, é a maior concorrente da Casa da Moeda. Por quais vias este dinheiro entra não vem ao caso, nem aos clubes interessa saber. Se recebem a bufunfa prometida, pra que mexer neste vespeiro?

.COMO descaracterizam a fórmula original da Copa do Brasil, onde apenas o campeão e vice de cada estado entravam, tinha interesse em jogo para beneficiar um pouco mais na frente os grandes clubes. Aqueles que descem de paraquedas exatamente na fase do filé.

.ALIÁS, essa história já foi contada várias vezes neste canto de página. Os efeitos são os mesmos de discursar pros peixes ou pregar para os camelos do Saara. Parafraseando o grande Stanislaw Ponte Preta - "Se é para se locupletar e ninguém reclama, nem diz nada, nos locupletemos todos." Coisas de futebol onde a seriedade foi mandada pras cucuias.

TOMA LÁ, DÁ CÁ

.COPA do Nordeste, bem mais modesta, foi criada a partir do momento em que os clubes nordestinos resolveram criar uma Liga independente, pisando nos calos da CBF. E se a moda pega e outras regiões criassem suas ligas? Já imaginaram o tamanho da confusão? O que fez a CBF? Resolveu dar seu apoio oficial, mesmo engolindo à força, inserindo-a em seu calendário. Mais vale ter o inimigo dormindo ao lado que vê-lo solto nas ruas, promovendo arruaças.

. QUE tipo de apoio dar não interessa, nem vem ao caso. Se a Liga e seus clubes não estrilaram, toda ajuda que vem de fora, principalmente a financeira será bem-vinda. Como na politica, é o famoso toma lá, dá cá. Até porque a Liga, cujos recursos são limitados, nem teve como rejeitar. Não está longe o dia em que a CBF assume a competição de vez. Não brinquem com a força e poderio dela.

.ENFIM, melhor ter algo pra iniciar o calendário esportivo do ano. Mesmo não empolgando, se vê a bola rolar. Não sossegarei meu facho enquanto não chegar o dia em que a Copa do Nordeste será transformada em Campeonato do Nordeste, eliminando-se os estaduais, que sobrevivem de teimosos.

VITÓRIA DO MELHOR

. CEARÁ venceu o CSA (2 a 0), no jogo mais esperado da rodada, ontem, começo da noite no Castelão. Simples explicar a vitória alvinegra. Foi melhor, soube se impor, usou uma maneira simples, a partir de quando a bola começou a rolar, pegando o adversário de surpresa. Pressionou o CSA em seu campo, sufocando-o na saída da bola.

.SURTIU efeito. O colombiano Mendoza abriu o placar, ducha de água fria, em cima do CSA. Mendoza, aliás, foi o grande nome do jogo. No segundo gol, que sacramentou a vitória alvinegra, deixou Vizeu na cara do gol. Só teve o trabalho de concluir pras redes. Qualquer um faria. Do CSA esperava-se mais do que apresentou. É um time bem entrosado, bem treinado, nada mais do que isso. Não o suficiente pra superar o bom futebol do Ceará. Um aviso de quem quer mais, muito mais.