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Historinhas de outros tempos: canela de vidro, presidente padeiro e capitão da voz fina
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Colunista do O POVO, Alan Neto é o mais polêmico jornalista esportivo do Ceará. É comandante-mor do Trem Bala, na rádio O POVO/CBN e na TV Ceará. Aos domingos, sua coluna traz os bastidores da política e variedades.

Alan Neto esportes

Historinhas de outros tempos: canela de vidro, presidente padeiro e capitão da voz fina

Alan Neto resgata a patada que levou do craque Erandy, a venda relâmpago de Gildo pro futebol paulista e a participação do capitão Bellini no programa de Irapuan Lima
Tipo Opinião

- MINHA primeira experiência no rádio, como locutor de pista, aconteceu em Sobral. Jogo Guarany x Fortaleza. Erandy era o ídolo tricolor, autor do primeiro gol no Castelão, etc e tal.

- FUI encará-lo quando deixava o gramado, diante daquela floresta de microfones. Cheguei na frente dos demais companheiros. Sempre quis fazer algo que me diferenciasse de todos os demais.

- POR exemplo. Fazer uma pergunta comum como tantas outras, não fazia meu perfil. Enchi-me de coragem e o encarei.

- "POR QUE seu apelido no futebol pernambucano era canela de vidro?". Pra quê? Erandy, apesar de encharcado de suor, ruborizou no ato — "Só não lhe mando para aquele canto em respeito aos ouvintes da sua emissora".

- E SAIU apressado pra dar outras entrevistas, cujas perguntas, as mesmas de sempre. Os demais companheiros, com medo de encarar o grande ídolo tricolor, preferiram lhe encher a bola.

REPRESÁLIA DA TORCIDA

- CEARÁ estava de presidente novo, que assumira, talvez, por ser dono de uma padaria. Gildo Fernandes de Oliveira já era o grande ídolo do Ceará, intocável para a torcida alvinegra.

- FOI quando apareceu o América de Rio Preto, interior de São Paulo, tentando comprar seu passe. Foi direto ao presidente neófito. Ele, como comerciante, não perdeu a pose. Estabeleceu o preço do passe, talvez imaginando que o clube paulista não topasse. Foi um tiro no pé. Do outro lado da linha veio a resposta fatal — fechado".

- PRONTAMENTE transferiu o dinheiro, exigindo que Gildo estivesse lá no mais breve espaço de tempo possível. Toda essa transação foi feita na surdina, sem conhecimento da imprensa.

- QUANDO a bomba estourou, os torcedores se encheram de revolta. Já estava na casa do sem jeito.

- O QUE fez a torcida do Ceará? Foi pra porta da padaria e tome palavrões de toda espécie contra o presidente do clube. Diante da multidão que queria invadir o estabelecimento e esganá-lo vivo, chamou a Policia.

- RESULTADO. Como não podia desfazer mais o negócio, fechou as portas da padaria por três dias. E os torcedores, se revezando, esmurrava as portas, gritando todos palavrões do mundo.

- O PRESIDENTE neófito não teve outro jeito. Renunciou ao cargo com menos de um mês de gestão. As portas da padaria só foram reabertas após sua saída, quando o Alvinegro já tinha novo presidente. Foi a gestão mais curta da história do clube.

- QUANTO ao destino de Gildo, cumpriu o contrato com o América de Rio Preto e, em menos de 6 meses, estava de volta. Não se adaptou ao clima paulista, os gols sumiram, o jeito foi o América se desfazer dele pelo mesmo dinheiro.

- QUANDO retornou ao Ceará onde passou bom tempo, Gildo trouxe de volta a alegria dos torcedores, que sempre o idolatraram.

A VOZ DO CAPITÃO

- IRAPUAN Lima, o rei dos auditórios, toda semana levava um ídolo, cantor com especialidade, ao seu programa, como a atração principal.

- AO tomar conhecimento da presença do Vasco da Gama em nossa Capital, e do grande capitão Hideraldo Bellini, conseguiu junto ao chefe da delegação levá-lo ao programa. Como o Vasco só enfrentaria o Ceará no dia seguinte, no PV, tudo ficou mais fácil. O dirigente vascaíno não se opôs e Bellini muito menos.

- TRABALHAVA ao seu lado como contrarregra. Irapuan me deu a missão de levar o zagueiro, também campeão do mundo, do Excelsior, o hotel preferido das delegações, para o auditório da Rádio Iracema.

- QUANDO Bellini me recebeu, com toda distinção, tomei um impacto. Aliás, dois. Primeiro por estar diante do grande ídolo e depois o impacto negativo — quando ele abriu a boca e de lá veio uma voz fina se contraponto a sua figura apolínea, de galã de cinema. Disse comigo mesmo — o auditório vai se decepcionar.

- AO chegar na rádio, chamei o Irapuan a um canto e o preveni. Ele respondeu — "Vai assim mesmo". Quando o Chacrinha do Norte anunciou a presença de Bellini, auditório abarrotado, veio abaixo aos gritos - "Bellini, Bellini" e o capitão vascaíno acenando para os fãs.

- ATÉ a hora em que Irapuan resolveu entrevistá-lo. Foi quando, afinal, Bellini falou. De lá veio a voz fina. De repente, o auditório emudeceu, um silêncio sepulcral.

- IRAPUAN teve uma saída honrosa, tentando aliviar a situação -"O Bellini está com essa voz por causa de uma gripe, daí veio a rouquidão". Aí foi o Bellini que não entendeu mais nada...

- DE volta ao hotel ele me dizia dentro do carro -"Se eu soubesse que teria uma reação tão fria do auditório jamais teria vindo. Afinal, o que fiz de errado?". Calado estava, calado fiquei.

 

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