A PARTIR do momento em que o Atlético-MG tomou distância dos demais, o Brasileirão começou a perder a graça. Fácil explicar. Quando um clube sai em disparada, a ponto de ser impossível alcançá-lo, a competição passa a ter fôlego curto. Afeta, inclusive, os demais concorrentes com reflexos imediatos. Passam a ser livres-atiradores.

A UM ponto tal, os que vêm atrás tratam de lutar por um lugar ao sol na Libertadores, desprezando até mesmo a Série A. É o reflexo do que acontece atualmente com o clube mineiro, tomando uma distância tão grande, não há adversário pra ele. Só com um binóculos se consegue enxergá-lo.

POR qual razão ele chegou a este ponto? Teoricamente, também é fácil explicar. Por ter formatado um bom time, embora sem grandes craques, que atua de maneira coesa, um bom treinador a dirigi-lo. Pra completar, os bons ventos sopram-lhe favoráveis.

PEDRA CANTADA

TÉCNICO Cuca não tem a menor culpa de os outros não o acompanharem de perto, sequer fazendo-lhe cócegas. Foi vencendo, acumulando pontos, chegou ao cume, já é praticamente campeão do Brasileirão por antecipação, pedra que cantei aqui faz tempo, embora este privilégio não tenha sido só meu. Outros devem ter dito a mesma coisa, sem descobrir a mirra e o outro. Os próprios números já haviam revelados.

NÃO é o primeiro caso, nem será o último. Quem fizer uma revisão dos torneios anteriores encontrarão caso semelhantes de outras equipes. Tudo isso é, também, reflexo da forma de disputa, da qual aliás não gosto, nem entra no meu faixo. Sou muito mais o mata-mata, onde o ingrediente emoção não falta. O torcedor deve pensar da mesma maneira.

CADÊ A GRAÇA?

OUTRO ponto da fórmula de pontos ganhos é o de, se algum clube disparar, tomar distância, a motivação vai se esvaindo até chegar a exaustão. Torcedor não torce por vice-campeonato, quanto mais por terceiro ou quarto lugares. Muitos deles se lixam pra Libertadores ou Sul-Americana à guisa (que palavra!) de consolo.

QUEREM ver é seu clube sendo campeão do Brasil. Minas Gerais está em festas com o feito do Atlético-MG, que agora só vai deixar o tempo passar, pontuar mais se for preciso e esperar o dia de colocar as faixas. Qual a graça que um torneio desse tipo, quando se sabe, de há muito, quem ganhará o título?

DIVISÃO DE TURNOS

ESTE é um dos motivos de ter defendido sempre a tese de divisão de grupos distintos, os chamados turno e returno. Pelo menos daria uma outra motivação aos clubes e aos seus torcedores que disputam o Brasileirão, todos partindo do zero no segundo turno, com os vencedores decidindo a final, como aconteceu há algum tempo, não tão longe assim.

CBF aboliu este tipo de fórmula, não se sabe por qual razão, mas certamente pra imitar as competições da Europa, cujo figurino é este. Sem reparar para o detalhe de que lá, o torcedor compra um carnê que lhe dá direito a ter assento privilegiado em toda competição durante a temporada. Se o jogo interessa ele vai. Acontece que a Europa não é aqui.

O VAZIO que se estabeleceu no Brasileirão deste ano, já se sabendo o campeão por antecipação faz bom tempo, extinguiu por completo qualquer tipo de motivação. Incluso aí os próprios mineiros, numa reta final anódina e sem qualquer tipo de graça. Se fosse o caso, quem sabe, acabará acontecendo, o Atlético-MG poderá fazer a sua festa das faixas no próximo compromisso.

ENFIM, este Brasileirão, foi o mais sem graça dos últimos tempos, tirante aqui e ali, as competições paralelas, tipo Copa do Brasil, Libertadores e Sul-Americana. Da Libertadores, o Flamengo foi despachado pelo Palmeiras, que se sagrou campeão.

CUMPRA-SE A TABELA

HOJE à noite, plena terça, e cedo da noite, o Ceará estará no Maracanã para enfrentar um Flamengo de crista caída pela perda de Libertadores. Um jogo muito mais para cumprir tabela, embora que, se ao Flamengo pouco ou quase nada interessa, desmotivado pela derrota contra o Palmeiras, ao Alvinegro interessa, sim, por ter objetivos colimados.

UM deles e, talvez, o principal, conseguir alcançar uma vaga, mesmo que seja a do último pau de arara, na Libertadores.

PARTIDA ser no Maracanã, território do Flamengo, deixa o Rubro-Negro mais à vontade, embora com sua torcida desmotivada pelo que aconteceu contra o Palmeiras. Mas aí é outra história, embora os resquícios fiquem. O Ceará pode tirar proveito disso pra conseguir um bom resultado, mesmo que seja o empate, nada contra.