Colunista do O POVO, Alan Neto é o mais polêmico jornalista esportivo do Ceará. É comandante-mor do Trem Bala, na rádio O POVO/CBN e na TV Ceará. Aos domingos, sua coluna traz os bastidores da política e variedades.
FORTALEZA fez da apresentação do argentino Silvio Romero, seu mais novo reforço, um acontecimento como, vai ver, nem ele, Romero, esperava. Primeiro, por ter mudado de local, levando-o para o Castelão, não para o Pici, como ocorre com outros menos votados. Depois porque queria dar ao fato um relevo maior do que o esperado.
CERTO ou errado? Absolutamente certo. Nesses tempos de vacas magras por essas bandas, tudo é válido, desde que excesso não passe da conta certa. Por trás de tudo isso, um bom trabalho do marketing tricolor, que, neste tocante, sabe como mexer as peças.
HÁ outros aspectos. Um deles ou talvez o principal. Fazer de Romero, por antecipação, espécie de novo ídolo sem ao menos deixá-lo ver em ação nas quatro linhas. Este segmento fica para um próximo capítulo. Até lá, incluso aí seus desdobramentos. Espera-se que positivos.
TORCEDOR gosta de contratação que traga, em sua esteira, algum ou alguns impactos positivos. Só em vestir a camisa 9, vir com fama, ou pretensa, de goleador já mexe com o ego da torcida. Artilheiro sempre dá ibope, diferente de zagueiros, laterais ou meios de campo.
HÁ explicação para o fato? Algumas ou inúmeras delas. Torcedor sempre teve uma certa queda por quem gosta de balançar as redes, mesmo que venha a se decepcionar mais na frente, mas aí o tempo dirá, um dos jargões mais usados no futebol. O tempo sempre traz em seu alforge, surpresas e decepções no futebol. Alguém, por acaso, já viu zagueiro ou lateral deixar o torcedor em êxtase? Com o devido respeito em quem atua nessas posições, importantes no contexto geral de uma equipe de futebol.
TRATAMENTO dado a Romero fez até mesmo a diretoria convidar a imprensa para uma coletiva nas dependências do Castelão. Vai ver nem o próprio atacante esperava tamanha dimensão. Como veterano em campo de futebol, do alto dos seus 33 anos, já deve ter passado por situações semelhantes por onde passou. Sabe-se que no Independiente, de onde veio, sempre teve lugar de relevo.
ROMERO recebeu, de cara, a camisa 9, que estava a sua espera. Diretoria tricolor transferiu-lhe a responsabilidade de ser o homem talhado pra balançar as redes, pelo menos na teoria. Na prática os quinhentos são outros. Não deve ter se assustado, nem ficado surpreso, pois prevenido antes, dentro do ritual que estava preparado.
OUTRO ângulo da questão. O Tricolor queria, o quanto antes, minimizar as perdas de seus dois atacantes, David, negociado com o Internacional-RS, e o veterano Wellington Paulista, que se mandou pra vestir uma nova camisa em sua carreira, caso do América Mineiro. Há de ter sempre um clube à espreita de quem, no mercado, de repente apareça livre, contanto saiba balançar as redes.
DAVID, nem tanto, embora bom atacante, mas Wellington Paulista veio ao mundo do futebol com esse estigma, que não é pra qualquer um. Consta que o Fortaleza o liberou pra o clube mineiro sem cobrar nada de indenização, com o rótulo de "bons serviços prestados". Carece de confirmação, embora uma coisa nada tenha a ver com a outra. Como assim? A contratação de Romero nunca esteve vinculada à saída do WP9 ou não.
SAIU, isto sim, pelo fato de o técnico Vojvoda não gostar da sua forma de atuar, tanto que optou em deixá-lo de castigo no banco de reservas por longo tempo. Fato de ser o principal goleador do time não entrou no facho do técnico argentino, adepto do futebol dinâmico e intenso, fora do contexto do WP. Ele é aquele tipo de correr pouco, mas sabe o caminho que a bola toma quando entra no circuito da grande área, daí empurrar às redes. Quem nasce com esta sina terminará seus dias com ela.
NA coletiva nenhuma surpresa. As perguntas levam sempre o mesmo carimbo e as respostas idem. Em coletiva de apresentação, nenhum jornalista vai querer posar de estraga-prazeres para quem está chegando.
A NÃO ser o fato de um companheiro de imprensa chamar-se Mário Kempes e, ao se apresentar, declinar seu nome. Romero espantou-se, mas Kempes tratou de explicar o motivo. Homenagem do seu pai a um dos maiores artilheiros e ídolos da história do futebol argentino.
LÁ pras tantas, contudo, Romero fez uma inconfidência, talvez, com a intenção de apimentar a coletiva. Qual? Que o Ceará também estava pretendendo seu concurso, mas acabou optando pelo Fortaleza, cuja proposta era bem mais apetitosa. Só não disse qual, segredo de maçonaria.
SE aconteceu, em alguma ocasião, interesse do Ceará pelo Romero, nunca transpirou e jamais Robinson de Castro sequer deu a entender. E se alguém atrever-se a perguntá-lo, com certeza responderá sarcasticamente, bem ao seu feitio — "quem é Romero?".
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