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Tantas recordações: momentos e passagens da carreira no jornalismo esportivo
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Colunista do O POVO, Alan Neto é o mais polêmico jornalista esportivo do Ceará. É comandante-mor do Trem Bala, na rádio O POVO/CBN e na TV Ceará. Aos domingos, sua coluna traz os bastidores da política e variedades.

Alan Neto esportes

Tantas recordações: momentos e passagens da carreira no jornalismo esportivo

Quantas vezes sofri na pele por dar informação que o ouvinte ou leitor não gostaria de ouvir ou de ler. Se fosse enumerá-las daria um almanaque
Tipo Opinião
Bola do Campeonato Brasileiro Série A (Foto: Alan Deyvid / Atlético GO)
Foto: Alan Deyvid / Atlético GO Bola do Campeonato Brasileiro Série A

COPA do Mundo passou, página virada. Contudo, a bola do futebol não vai parar, principalmente as que rolam nos bastidores, onde, enfim, as coisas acontecem ou não. Campo fértil também para especulação. Especular é como a história da meia verdade, que, se não é verdade, também pode não ser mentira. Um pé na frente, outro atrás, enfim, não custa nada, mas com os fios permanentemente ligados.

DAS cinzas que restaram da Copa nada ficaram, a não ser muitas lições que nem sempre os cartolas, dentro de suas empáfias, costumam apender. Eles se acham intocáveis, naquela de pensar que sabem tudo e acabam não sabendo de nada. Em represália, quando criticados, culpam a imprensa de fazer especulações ou críticas destrutivas. A imprensa acaba sempre se transformando em bode expiatório, exposta à sanha de cada um deles.

OUTRO lado da história, quando são elogiados, sequer agradecem, quando também não há necessidade. A imprensa, a imparcial e independente — bem entendido —, está na obrigação de cumprir o seu dever, qual seja de informar e de criticar quando há necessidade. Leitor, que também não é bobo, faz seu juízo de valor.

SEGMENTO do futebol, quando paixões se exacerbam, esta é uma das mais difíceis, ou quem sabe a mais, pois mexe com paixões. Quantas vezes sofri na pele por dar informação que o ouvinte ou leitor não gostaria de ouvir ou de ler. Se fosse enumerá-las daria um almanaque.

MENOS mal que a minha memória não seja chegada a armazenar incontáveis episódios dos quais fui alvo, safei-me nem sei bem como. Remete-me à história da compra pelo Ceará dos jogadores Erandy e Joãozinho, ídolos do Fortaleza, tudo às escondidas. Quando estourei a bomba de mil megatons, o mundo veio desabou na minha cabeça.

POR coincidência, o Fortaleza atuava naquele dia. Quando fui entrar no PV, estava lá uma multidão de torcedores à minha espera pra ir à forra. Não fui trucidado graças à intervenção da Policia. Mas propus um acordo. Se os dois entrassem em campo naquela noite, eles podiam me esperar no fim do jogo. Saí no intervalo para evitar um mal maior. Mas a transação foi oficialmente anunciada no outro dia. Ufa!

MINHA pele estava salva, mas a do presidente do Fortaleza de plantão, neófito no cargo, acabou pagando o pato. Para se safar saiu no carro da Polícia, mandou-se pra casa e na mesma noite renunciou, para nunca mais botar os pés num estádio.

QUANTO aos dois atletas, que já sabiam das duas vendas, entraram em campo, passaram o jogo se escondendo, não entraram em divididas, com toquinhos para os lados para, final do jogo, confirmarem a noticia bombástica. O mundo veio abaixo. Como saíram do PV, nem sei, não vem caso.

SÃO tantos casos sem fim que, para enfileirá-los, daria uma canseira enorme, quanto mais passar tudo isso para um livro. Naqueles bons tempos das chamadas "bombas de mil megatons", o rádio era mais divertido. Aviso — enveredar pelo caminho da crítica e do privilégio da informação de primeira compara-se a pisar em brasa de um lado e de ovos do outro.

PORÉM, se escolhi este caminho, a intenção mesmo era fazer algo diferenciado do lugar comum. Talvez tenha sido o primeiro radialista a criar um programa em que se dispensava o que estava escrito para se falar de improviso, mesmo e apesar dos tropeços gramaticais, logo corrigidos. A gente vai aprendendo com o tempo e ainda hoje sou assim, quer no rádio, quanto na televisão, onde trabalho com cobras. Não obedeço ao que o teleponto está escrito porque meu raciocínio é muito rápido e aquelas letrinhas miúdas me atrapalham.

COMO no jornal é diferente, sou obrigado a escrever, me aprimorei mais no português para evitar derrapadas. Por esta trilha meus irmãos Sérgio e Hider também seguiram. O primeiro ainda hoje é meu parceiro maior. Hider preferiu seguir por outros caminhos mais sólidos. O rádio tem seus encantos, a tevê também, mas o que fica escrito no jornal é para sempre. Logo, são três segmentos diferentes, apesar de verdadeiros, cada qual no cumprimento do seu papel.

CASO que me toca, consigo conviver com os três, embora com cuidado redobrado, pois qualquer descuido pode ser fatal em termos de reputação profissional. Como se ficasse se equilibrando em arame farpado. Mas não me arrependo e começaria tudo outra vez.

AOS que tanto ajudaram a me afirmar, como Wildo Celestino, Chico Alves Maia, Antônio Pontes Tavares, José Raymundo Costa, este, então, meu maior mestre. Foi dele a lição maior — "Escreva para o leitor entender, o mais simples possível". Quantas colunas rasgou e mandou que fosse reescrevê-las? Como esquecê-lo? Tenho o dom de ser grato. De pedir e voltar para agradecer que tão raros exercem.

MUITO menos me arrependo de ter escolhido o futebol, mesmo quando Sarasate, do Rio, mandou recado para seu Costa. "Gosto da forma como o Al Neto (era assim que me chamava) escreve. Aproveite-o na política".

SEU Costa rebateu de lá — "Se fizer isso vou cobrir um santo e descobrir outro". Podia se impor como dono do jornal, mas preferiu vergar-se às evidências. Essas recordações me matam...

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