Torcida, crítica e influência: até onde vai o papel das mídias alternativas dos clubes?
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Locutor esportivo da Rádio O POVO CBN. Radialista formado e acadêmico em jornalismo pela Universidade Estácio, já trabalhou em diversas rádios de Fortaleza, atuando como narrador e em outras funções, incluindo a parte técnica. Esta coluna trata sobre mídia esportiva e analisa os avanços das transmissões esportivas em todas as plataformas
Torcida, crítica e influência: até onde vai o papel das mídias alternativas dos clubes?
Declaração de Tinga sobre influenciadores ligados ao Fortaleza abre o debate sobre o papel — e os limites — das mídias independentes formadas por torcedores. Em tempos de internet, a responsabilidade de quem comunica e o momento de quem reage merecem reflexão
Foto: Mateus Lotif / Fortaleza EC
Tinga, lateral-direito do Fortaleza, durante coletiva de imprensa na sede do clube
Nesta semana, o lateral-direito Tinga, capitão e jogador-símbolo do Fortaleza, utilizou uma coletiva de imprensa para expressar sua insatisfação com parte dos conteúdos produzidos por canais de torcida e influenciadores ligados ao clube. Segundo ele, há quem “influencie para o mal” e gere o caos na relação entre time e torcedores. A declaração provocou reações diversas e abriu espaço para uma reflexão importante: onde está o limite do torcedor-comunicador e qual o papel do atleta nesse cenário?
Tinga tem todo o direito de se incomodar e se posicionar. Mas o momento e o local escolhidos — uma coletiva oficial do clube — talvez não tenham sido os mais adequados. Assim como não é certo que torcedores invadam o campo de treinamento para dizer aos jogadores o que devem fazer dentro das quatro linhas, também não parece saudável que o atleta use o microfone institucional para responder diretamente a quem está do lado de fora. Troca-se o foco, tensiona-se ainda mais o ambiente, e o resultado prático disso quase sempre é o oposto do desejado.
Do lado dos comunicadores e canais independentes, o crescimento da audiência exige uma responsabilidade proporcional. A grande vantagem dessas novas mídias é o contato direto com a própria torcida — falando com quem realmente se importa, sem filtros e com liberdade editorial. Mas isso também exige maturidade. Afinal, falar diretamente com o torcedor é diferente de falar como o torcedor, no calor da arquibancada ou da rede social.
Apesar da internet ter potencializado tudo isso, o movimento de torcedores com microfone não é exatamente novo. Desde os anos 1990 vemos esse fenômeno em emissoras de rádio AMs, com comunicadores identificados com Ceará, Ferroviário e Fortaleza arrendando horários para informar, opinar e representar as respectivas torcidas. A diferença agora é o alcance e a velocidade com que tudo acontece.
E é justamente aí onde mora o perigo: o imediatismo. A internet cobra agilidade — ou será que é o próprio público quem exige isso? Para fazer uma análise minimamente sensata é preciso tempo, calma e convicção. Falar no calor da emoção pode gerar uma repercussão negativa — especialmente quando o que viraliza é apenas um corte, um trecho isolado de vídeo ou live, muitas vezes fora de contexto. É esse corte que costuma explodir em visualizações e engajamento, não a análise completa, mais equilibrada. Isso torna ainda mais necessária a responsabilidade de quem produz, edita e compartilha conteúdo sobre o clube que ama.
No fim, não se trata de censura ou de silenciar ninguém. O que está em jogo é o amadurecimento de todos que fazem parte desse cenário: atletas, clubes, torcedores e comunicadores. A crítica faz parte do futebol, assim como a paixão. Mas entre um desabafo e uma acusação, entre uma opinião e uma influência, há uma linha que precisa ser entendida — e respeitada. Porque no fim das contas, todos — comunicadores, jogadores e torcedores — estão do mesmo lado: o do clube.
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