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A ascensão do capital intangível e a financeirização da economia
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Alexandre Sobreira Cialdini é secretário do Planejamento e Gestão do Estado (Seplag-CE). É economista formado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), com mestrado em economia pelo Caen, da Universidade Federal do Ceará(UFC). Também possui mestrado em Planificação Territoral e Desenvolvimento Regional, pela Universidade de Barcelona, especialização em políticas fiscais pela Cepal, pós-graduação em finanças públicas avançadas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Rio de Janeiro, e doutorado na Universidade de Lisboa. Já teve passagem na pasta de Finanças das prefeituras de Caucaia, Fortaleza, Eusébio e São Bernardo do Campo (SP). Cialdini é auditor fiscal concursado da Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz-CE)

A ascensão do capital intangível e a financeirização da economia

Existem diferenças fundamentais entre ativos intangíveis e tangíveis. A primeira delas diz respeito à contabilização. Muitas convenções e regras contábeis ignoram os ativos intangíveis
Tipo Opinião

As principais economias desenvolvidas passaram a investir mais em ativos intangíveis - como design, branding (gestão da marca e estratégia de marketing), pesquisa e desenvolvimento e softwares - do que em ativos tangíveis, como máquinas, edifícios e computadores. As grandes empresas desse segmento não possuem carros; elas possuem softwares e dados. Cafés e academias, por exemplo, dependem do branding para se destacar na multidão. Esse é um novo modelo de capitalismo - sem capital físico, mas baseado em capital intangível.

O relatório mundial sobre ativos intangíveis (https://www.wipo.int/publications/en/details.jsp?id=4744) revela que, nas 26 economias analisadas, responsáveis por 52% do PIB global em 2023, o investimento intangível tem superado, de forma consistente, o tangível desde 2008. Em um trabalho recente, os premiados economistas ingleses Jonathan Haskel e Stian Westlake, no livro "Capitalismo sem Capital: A Ascensão da Economia Intangível", demonstraram que compreender a mudança para o investimento intangível é essencial para entender temas como inovação, crescimento e desigualdade.

Existem diferenças fundamentais entre ativos intangíveis e tangíveis. A primeira delas diz respeito à contabilização. Muitas convenções e regras contábeis ignoram os ativos intangíveis. No Brasil, a Lei Federal 4.320/64, que regulamenta a contabilidade pública da União, Estados e Municípios, classifica softwares como despesa corrente, e não como despesa de capital. Em países como os Estados Unidos e diversas nações europeias, esse paradigma já foi superado. À medida que os intangíveis ganham importância, surge a necessidade de desenvolver novas métricas para mensurar o valor desse "capitalismo sem capital físico". 

A segunda grande diferença está nas propriedades econômicas dos intangíveis, que fazem com que uma economia baseada nesses ativos se comporte de maneira distinta de uma rica em tangíveis. Isso ocorre porque os investimentos intangíveis apresentam quatro características principais: (1) tendem a representar custos irrecuperáveis; (2) geram transbordamentos; (3) são escaláveis, permitindo usos repetidos a um custo reduzido, o que favorece o crescimento rápido de negócios; e (4) possuem sinergias ou complementaridades, tornando-se mais valiosos quando combinados corretamente.

Uma preocupação mais recente, que está na fronteira da análise econômica, é o impacto da relação entre bens intangíveis e aplicações no mercado financeiro. Foi o que constatou o  estudo "Financeirização e Ativos Intangíveis em Economias de Mercado Emergentes: Evidências do Brasil" (disponível em: ) publicado na Revista de Economia de Cambridge. Realizado por três pesquisadoras inglesas, o trabalho demonstrou que a acumulação de intangíveis é de alto risco, enquanto os investimentos em ativos financeiros oferecem retornos mais previsíveis - uma constatação já antecipada por Kenneth Arrow em 1962.

Esse impacto da financeirização é prejudicial ao Brasil, pois trava as oportunidades na nova economia. Taxas de juros elevadas e a incerteza macroeconômica comprometem setores que dependem de inovações tecnológicas e agregam alto valor -, fatores essenciais para a sustentabilidade do desenvolvimento do país. n

 

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