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O que seria distopia, é realidade circunstancial
Foto de Ana Márcia Diógenes
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Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza

O que seria distopia, é realidade circunstancial

Brasil se tornou cenário grotesco para livro ou filme, alimentado por alguns eleitores de quem não ganhou
Tipo Opinião
Manifestantes bolsonaristas protestam contra o resultado das urnas em frente a 10º região pedindo intervenção federal. Alguns deles ocuparam a Catedral da Sé (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Manifestantes bolsonaristas protestam contra o resultado das urnas em frente a 10º região pedindo intervenção federal. Alguns deles ocuparam a Catedral da Sé

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Estava estudando literatura e encontrei um conceito sobre ficção distópica que me fez refletir. Às vezes, a gente nem quer, em determinado momento, se fixar em um pensamento, mas ele domina o cenário. O texto falava que distopia é quando se concebe, de propósito, um mundo imaginário pior do que o nosso. É o contrário da utopia, que projeta um mundo melhor.

Um escritor, escritora ou cineasta que queira retratar o país após o resultado das urnas para presidente, vai encontrar uma realidade tão distópica que, no futuro, diante de quem não viveu os fatos, pode ser classificada como apocalíptica demais. Quase over. Mas é que a realidade brasileira está difícil de ser representada.

Parece mentira que parte dos 49,10% de eleitores do atual presidente, desaprendeu (alguns talvez não tenham tido a chance de ter aprendido) o sentido de democracia. Não aceita o resultado. Poderia dizer que é risível. Mas, como rir do que prejudica a livre movimentação de pessoas na estrada, do estrago de alimentos em caminhões barrados em rodovias, do que fez uma pessoa perder a difícil possibilidade de ganhar coração novo em um transplante?

Não encontrei uma única palavra – grotesco, bizarro, tolice, facilidade de ser influenciado, falta de senso? - para classificar quem desrespeita a vontade, legítima, dos 50,90% dos eleitores no candidato que ganhou. Deixo com cada um a melhor forma de nominar quem, influenciado por palavras de ordem e gestuais que lembram os nazistas, acredita que a tentativa de desagregar o funcionamento do país vai mudar o resultado das urnas. Só lembrando que os nazistas provocaram a morte de cinco milhões de judeus na II Guerra Mundial.

Caros escritores, escritoras e também cineastas. Caso queiram mesmo retratar este momento doentio de parte do país, não esqueçam de pesquisar como as áreas militares, que sempre foram tão resguardadas, permitiram que centenas e milhares de pessoas – sem mérito democrático para empunharem nossa bandeira -, se postaram, horas a fio, noite adentro, nos seus entornos.

Não esqueçam das histórias de calçada. Ops, histórias de estrada. Vi gente de cadeira e tudo, conversando como se tivesse em um bar, mas, na verdade, eles estavam tirando crianças com câncer de seus tratamentos e ferindo a dignidade delas, fazendo-as mostrar suas cabeças ralas de cabelo. Eles prejudicaram a chegada de alimento nos supermercados, da carne nos açougues, as mudanças dos novos inquilinos, o ganha pão dos produtores rurais.

Não esqueçam de investigar a atuação da Polícia Rodoviária Federal na garantia do fluxo do tráfego. Vimos policiais quase pedindo desculpas aos que tumultuavam as vias.

É uma parte do país que foi condicionada, como os cientistas fazem com cobaias em laboratórios, a respirar conteúdos falsos, a desacreditar na imprensa para colocar sua fé no Deus fake news. É mesmo uma realidade distópica.

Enquanto isso, em 2018, o lado que perdeu sofreu sua derrota e aceitou democraticamente o resultado. Não fez favor. Isto é o normal.

Mas, façam sua obra logo, porque eles passarão. Um dia terão vergonha de ver suas imagens em livros de histórias e audiovisuais nas redes sociais. A eles, caberá uma só legenda: “perdoai-os, eles nem entendiam o que pediam”.

 

Foto do Ana Márcia Diógenes

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