Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Foto: Evaristo Sá / AFP
Manifestantes golpistas bolsonaristas invadiram e depredaram a sede dos poderes, em Brasília, em. 8/1/2023
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Caros alunos da minha primeira turma,
Quero dizer para vocês que nem tudo o que parece é. E isso vale para uma projeção, para uma estimativa, para um desejo. Quero trazer aqui uma conversa que tivemos sobre presente e futuro do país, a partir de uma afirmação que fiz. A conversa, de vez em quando, voltava em disciplinas dos semestres seguintes.
Estávamos em um laboratório de produção de texto. Eu falava da importância de um jornalista entender a história do país, a política, as questões sociais e a economia, para que o profissional pudesse situar bem a reportagem que ia escrever. Dizia da necessidade de conhecer a história recente e a remota, e compreender a conjuntura social de cada tempo.
Em determinado momento, afirmei que, ainda bem, nem vocês nem meus filhos iam precisar viver o que gerações antes da minha tiveram que enfrentar: uma democracia enfraquecida pela ditadura militar. Observei que, quando estudante, já na década de 1980, ainda pegamos rebarba de invasão da polícia, com gás lacrimogênio, na universidade pública, por conta da ocupação de uma avenida por um movimento contra o reajuste da passagem de ônibus.
Anos após a conversa em sala de aula, logo depois do resultado da eleição para presidente, em 2018, um de vocês, o Vítor, me disse: “eita, professora, a senhora disse que a gente tinha sorte de não ver a democracia ameaçada, mas agora parece que tudo pode mudar”. Respondi que as instituições eram fortes, e o povo respeitava a Constituição e os pilares da democracia.
Pelo menos até oito de janeiro deste ano. Talvez por acreditar no bom senso, na ética e nos valores humanos, achei que depois de um mandato desastrado, o país voltaria ao normal, com um novo presidente, eleito democraticamente. Mas, infelizmente, não tem sido assim.
Os órfãos de um mandatário - que ignorou a saúde, chamou a pandemia de gripezinha, esnobou a vacinação, reduziu investimentos na educação, estimulou o armamento, dentre outras crueldades -, herdaram e multiplicaram o ódio contra as instituições democráticas. Invadiram, queimaram, quebraram. Tocaram foco na ordem. Tentaram criar ambiente para um golpe. Ameaçaram a democracia.
Vítor, toda a turma que estava naquela conversa e quem estiver lendo: a realidade atual me joga na cara, neste mês de janeiro, o mal destilado pelos terroristas que foram à Brasília, seus financiadores e os estrategistas. Precisamos fazer com que conversas sobre acreditar no país não sejam um erro, e sim um caminho para que mais brasileiros valorizem o estado democrático.
Os que querem um país mais justo têm que se posicionar, dizer que não aceitam o Brasil do quebra-quebra, das invasões às instituições que são pilares de sua democracia.
Os terroristas de Brasília, seus financiadores e gurus não podem nos fazer desacreditar no Brasil ou no brasileiro. Por isso, caso eu esteja em uma sala de aula daqui a dez anos, repetiria a mesma afirmação a esses futuros alunos: ainda bem que nem vocês, nem meus filhos, vão precisar viver o que gerações antes da minha tiveram que enfrentar: uma democracia enfraquecida.
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