Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Algumas palavras, principalmente as que se relacionam aos nossos limites humanos, parecem continuar a meter medo, mesmo quando, cada vez mais, elas tenham passado a fazer parte do cotidiano de milhões de pessoas em todo o mundo. Uma delas é câncer, que alguns ainda escondem sob o nome de “aquela doença”. Outra é o Alzheimer, ocultado como “esquecimento” ou no máximo como “é uma demência, mas não é Alzheimer”.
Vou me deter sobre o Alzheimer, até por existir casos na família e viver cotidianamente o estigma de ter um parente nesta situação. Esconder ou ignorar a doença só faz crescer o estigma sobre ela. Não é mais possível varrer para debaixo do tapete: no Brasil, segundo a Folha de São Paulo, mais de 55% (966.594) dos 1,7 milhão de casos de demência entre pessoas a partir de 60 anos, correspondem a Alzheimer. O Dia mundial de conscientização sobre a doença, no último 21 de setembro, colocou foco nos dados e este é um caminho necessário para o esclarecimento.
Saber mais sobre a doença e como se comportar diante dos primeiros sintomas de um familiar é imprescindível para que os cuidados com geriatra e/ou neurologista possam ser iniciados. A atitude de ema, de tentar fazer de conta que não vê as mudanças, leva a situações constrangedoras. Já vi casos de parentes, mesmo sabendo que o idoso está “esquecido”, ficar brincando de trocar nomes para “testar” a capacidade de memória. Resultado: o idoso passa a ser alvo de risadas de alguns, ao invés de ser acolhido na sua nova e involuntária condição.
Na reportagem vi que existem ainda, na mesma faixa etária dos 60 anos, pelo menos 2,3 milhões de brasileiros com sintomas ligados à memória e à cognição, embora ainda sem evidências de demência. Ou seja, há uma população na tênue linha para entrar no registro de algum tipo de problema relacionado à perda da memória. A estimativa do estudo Brazilian Longitudinal Study og Aging, de acordo com a FSP, é que, até 2050, um número superior a 5,5 milhões de brasileiros acima de 60 anos convivam com a demência.
Ou a doença é encarada de frente ou ainda vamos ver pessoas achando que os idosos “aumentam” situações de embaraço mental porque são teimosos, ou mesmo tratando-os com impaciência em espaços públicos ou elevadores, porque andam devagar ou apresentam algum grau de confusão mental. Ninguém inventa que está perdendo a memória. Ela está ou não acessível na mente.
O que mais se pode fazer para conviver com nossos idosos, com foco nos que têm demências ou especificamente o Alzheimer, é aprofundar no conhecimento, nas experiências exitosas de convivência familiar, na medicação mais adequada a cada um, nas adaptações que a família precisa fazer. Nesta caminhada tenho encontrado, ainda bem, pessoas conscientes na mesma busca. E venho trocando experiências sobre novos medicamentos e pesquisas.
No paralelo dos caminhos da ciência para novos avanços no tratamento, é fundamental que se evolua também em assumir que Alzheimer é uma doença que muitos entre nós pode vir a enfrentar, e que o melhor a fazer é colocá-la no foco das discussões. E que isso gere mais afeto e acolhimento aos nossos idosos.
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