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Pais controladores, filhos crescidos sem autonomia
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Ana Márcia Diogénes é jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assessora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza

Pais controladores, filhos crescidos sem autonomia

Têm sido cada vez mais recorrentes os casos de adultos inseguros e egoístas com seus familiares que os superprotegem
Pais controladores, filhos crescidos sem autonomia (Foto: Reprodução/Pexels/Monstera Production)
Foto: Reprodução/Pexels/Monstera Production Pais controladores, filhos crescidos sem autonomia

Dia desses, numa padaria, uma senhora falava ao telefone, provavelmente com algum familiar, sobre a preocupação com o filho que havia viajado para esquiar em Bariloche, na Argentina. Era a terceira vez que ele ia, desde que havia aprendido a esquiar.

A mulher reclamava que nem todo dia recebia mensagens dele sobre como estava por lá e tinha que se contentar em ver postagens nas redes sociais.

Aos poucos fui entendendo que não era um adolescente ou mesmo um jovem. Era um homem de quase 50 anos que estava esquiando com a filha, de 17 anos, do primeiro casamento. Mas a forma com que ela se referia ao filho, era como se fosse alguém incapaz de se cuidar, que precisasse ser controlado, vigiado.

Costumo dizer que assuntos parecem gostar de andar em pares. Um puxa outro, do mesmo segmento, mesmo que aconteçam entre pessoas que nem se conhecem, ou sejam até de cidades diferentes.

Uma amiga, advogada em outro Estado, que sabe do meu interesse sobre comportamento humano, me
contou sobre uma cliente idosa que a procurou para saber se a filha única teria obrigação de cuidar dela, em caso de doença que a deixasse sem condições de continuar vivendo sozinha.

A idosa se queixava de ter dado tudo para a filha, de graduações em faculdades particulares, a cursos, carro, viagem, financiamento de imóvel e até o INSS para garantir a aposentadoria.

Um dia, depois de uma discussão sobre manter ou não uma contribuição financeira para uma doméstica antiga que estava adoentada, a filha única sumiu. Não fazia mais contato com a mãe nem para perguntar sobre sua saúde.

Dois detalhes importantes: a mãe abandonada continuava depositando mensalmente uma mesada e a filha tem mais de 60 anos.

Os dois casos, aparentemente, não teriam relação. No primeiro, o filho não parecia alimentar a tentativa de controle da mãe e, no segundo, a filha vive às custas da mãe e a abandonou. Mas têm. Em comum está a exagerada superproteção, que deve ter tido início desde a infância e que faz com que os pais julguem seus filhos, adultos, como incapazes.

Os pais os consideram como eternas crianças a serem cuidadas. E os filhos incutem a ideia de que os
pais têm obrigação com eles para o resto da vida.

Geralmente são esses filhos - criados a pão-de-ló de uma lógica de afeto baseada no excessivo controle e no amparo financeiro - que menos se dedicam a cuidar de seus pais quando estes ficam idosos. Seja o quase cinquentão, tratado como criança, ou seja a idosa, que abandona uma mãe, também idosa, mesmo sendo sustentada por ela.

O fato é que o exagero de proteção é tão danoso para quem dá como para quem recebe. Todas as fases da vida têm seus aprendizados.

Quando os pais cerceiam a possibilidade de que os filhos cresçam autônomos estão criando seres
humanos inseguros e muitas vezes egoístas, que se voltam contra quem não os deixou crescer conforme a idade.

Educar é contribuir para a formação de pessoas independentes e responsáveis consigo e com os outros.

Foto do Ana Márcia Diógenes

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