Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
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Boa parte do Brasil está acompanhando o drama da atriz, cantora e empresária Larissa Manoela. O confronto entre a filha e mãe têm um realce particular no caso que envolve a família. Pelo que se sabe, os pais abriram mão da própria carreira para cuidar dos negócios da filha, que começou a trabalhar criança aos seis anos de idade. Larissa fez fortuna. A guerra de hoje é sobre o dinheiro. A cada momento surgem detalhes sórdidos sobre violências praticadas contra a moça, apropriação de milhões, rompimento das relações familiares.
No entanto, no caso de Larissa, o pano de fundo é a maternidade/paternidade que ressoa. Outros artistas, sabemos, tiveram relações complicadas com os pais. Michael Jackson era espancado pelo pai violento. Amy Winehouse teria sido explorada pela família. O documentário “Amy” (2015), dirigido por James Gay Rees e Asif Kapafia, vencedor do Oscar em 2016, revela que o pai-empresário de Amy, Mitch Winehouse, obrigou a cantora a fazer shows sem a mínima condição de sequer ficar de pé a fim de honrar contratos milionários, além de ter sido completamente negligente com a cantora que morreu aos 27 anos, em julho de 2011. Mitch acusou os diretores do documentário de terem enganado a família.
Britney Spears, cantora, compositora e atriz estadunidense começou a carreira criança, já viveu na gangorra das brigas familiares, chegou a levar o pai aos tribunais para impedir que ele continuasse responsável por sua vida financeira. (Além de pais, maridos abusadores se multiplicam na vida de muitas artistas.) E claro, a fortuna dessas mulheres costuma estar no centro das desavenças públicas, acompanhadas com muito interesse e a falsa surpresa: “como pode uma mãe, um pai agir desta ou daquela maneira com um filho, uma filha?”.
Parece que a gente esquece que o conflito faz parte da vida familiar: a nossa própria e a dos outros. De pouco adianta ficar horrorizado com os familiares de alguém. A nossa formação judaico-cristã tem na origem o assassinato entre os irmãos Caim e Abel. Nossa tradição literária grega nos mostra Medeia, a mulher abandonada pelo marido Jasão, que, por vingança, mata os dois filhos crianças.
Numa das entrevistas dadas, Silvana – mãe da cantora brasileira – diz que “não queria que a filha sofresse” e que “havia pecado por excesso de zelo e amor”. Acontece que a gente também tende a ficar mais tranquilo quando se convence que filho e filha precisam aprender a sofrer sozinhos. A última lição que podemos tirar da história da Larissa Manoela é que excesso de amor é problemático em praticamente todas as situações em que esse sentimento está envolvido. Zelo demais pode muito bem se transformar em ganância, avareza, autoritarismo. Se houver muito dinheiro em questão, a coisa tende a terminar num drama acompanhado pela mídia de forma tão desumana que a impressão que dá é que os personagens envolvidos não passam de seres ficcionais.
E a falta de humanidade chega aos julgamentos sobre uma maternidade desnutrida de qualquer complexidade. Atualmente, existe até quem torça pela mãe de Larissa ou pela própria atriz como se as duas estivessem participando de um reality show e, no fim de tudo, fosse haver uma vencedora.
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