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A Nau dos Indignados
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Escritora. Estreou como romancista em 1989, com Boca do Inferno (prêmio Jabuti de revelação). É autora de Dias & Dias (2002, prêmio Jabuti de romance e prêmio da Academia Brasileira de Letras)

Ana Miranda crônica

A Nau dos Indignados

Tipo Crônica
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Alguém sentava na calçada com um poeta, e lá nascia uma amizade. Encontravam-se colegas da escola numa sala de jantar, ali estava um grupo de amigos. Não há mais. Grupos de amigos, hoje, são imagens feitas de luzes e sons onde correm sonhos. Nunca houve isto. Há milhares, talvez milhões de grupos pelo mundo com pessoas que se entrelaçam e formam constelações de fraternidade - há os agressivos, também, os subterrâneos, perigosos. Faço parte de quatro grupos, mas vou aqui falar de um deles, extraordinário: Literatura & Liberdade.

Libertação da mente. Leitura da vida. O grupo é composto por romancistas, jornalistas, um líder indígena, poetas, desenhistas, fotógrafos, professores, filósofos, músicos, um publicitário, cineastas, cronistas, atores, ambientalistas... mesmo uma secretária e uma médica. Gente que honra o Brasil. Gente incrível, também de Moçambique, Portugal, Angola. Há algo de magia na criação desse grupo pelo agente cultural e escritor Afonso Borges, raio na noite escura.

O grupo, em suas próprias palavras, é um espaço de afeto, partilha e criatividade (Emediato). Um mundo não mais desabitado, pausa na falta de abraços (Muriel). Oásis de "almoços virtuais que dão água na boca, poesia e prosa, memórias musicais, besteirol amigo, curiosidade com o mundo, vontade de aprender sempre mais, informação urgente..." "Infinita alegria de compartilhar humanidade" "De poetas africanos às pasárgadas de cada um" (Dorrit). "Os olhos boiando em azuis, mas os pés firmemente equilibrados na trincheira... Combatendo, sem perder a poesia" (Bettencourt). "Nas gotas de chuva, sílabas do céu" (Livia) Falamos de nosso cotidiano, quem quebrou uma perna, das mortes, da indignação, quem lança um livro, quem lê um livro, correm textos que são porradas, mal o dia começa. Esse grupo é um bálsamo (Silvana). Energia cicatrizante (Rosiska).

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Um bom e confortante vício. Insano, culto e divertido (Chico). Devolve-nos a fúria. (Denise). "Nesse mundo tão desorientado e raivoso é um privilégio estar neste oásis de sabedoria e percepção sensível" (Sérgio). "Obrigada por não desistir nunca de agregar. Por gostar tanto de gente. Por ter fé nos amigos. ... Por ter olhos de criança, risada de criança, por nos fazer ver a alegria dos encontros no mar dos absurdos. Você é um farol imenso, meu querido" (Denise para Afonso).

O grupo vai crescendo a cada dia, vai sendo recriado a cada um que entra, ninguém pode imaginar no que isso está se transformando. Não sabemos se existe algo desta dimensão no Brasil. Não vejo nada igual, nem parecido. "É muito. Muito. É demais da conta. Não dou conta. Às vezes quero morar para sempre dentro deste grupo. Às vezes quero fugir disso tudo e me refugiar na minha vidinha. Mas sei que não devo, nem posso. Abro o coração e assim permaneço. Convidando a todas e todos para a comunhão permanente..." (Chico)

Não deixo de ler as mensagens, sinto-me conectada ao que há de melhor nesta humanidade que são as pessoas íntegras e que se preocupam com as outras pessoas e com a Terra. E viva a menina Serena, musa do grupo. Abreijos, como diz o Betto.

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