Mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Pesquisa políticas públicas, em especial de combate à pobreza e de enfrentamento à pandemia; e teorias feministas. Faz parte da Red de Politologas e da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas
Como cientista política devo reconhecer que este mês, apesar do oito de janeiro, foi mais tranquilo que os anos sob Bolsonaro. Minha profissão parece fazer algum sentido agora que a política voltou à racionalidade que é sua razão de ser
Foto: Divulgação
Ananda Marques, mestra em Ciência Política (UFPI), cientista política, professora e pesquisadora. Integra a Rede de Politólogas e a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas.
Qual o saldo do primeiro mês do novo governo? Em apenas trinta dias tivemos posse com simbolismos e discursos anunciando mudanças, invasão e destruição dos Três Poderes por bolsonaristas em busca de um golpe de Estado, reunião dos representantes das instituições atacadas, visita do presidente aos yanomami e consequente decretação de emergência em saúde pública, primeira viagem internacional para Argentina e Uruguai, além de revogações, decretos e sanções, posses de ministérios e composição de equipes.
A impressão é de que foram muitos meses em apenas um, mas, ao mesmo tempo, os efeitos da crise, agravada pelo último governo, ainda estão presentes no cotidiano da população. A fome assola milhões, as escolas, universidades e o SUS ainda convivem com os resultados de um governo anticiência, e as famílias brasileiras ainda estão divididas entre o mundo real e as fake news, uma parcela significativa das pessoas vive numa realidade paralela de idolatria ao ex-presidente que aproveita as férias nos EUA.
O saldo é o retorno a uma normalidade democrática mínima, na qual as instituições - que não estão funcionando como deveriam há bastante tempo - tentam dar conta de seu funcionamento, o golpismo bolsonarista está presente em todas elas, além da tensão com militares que vêem a si mesmos como um poder moderador. Mas, a democracia brasileira, que respirava por aparelhos, não morreu. Ela não está sadia, mas segue viva pelo menos por enquanto.
Diferente do que fanáticos acreditam, o país não virou comunista, nem passamos a ter no cardápio cachorros, nenhuma igreja foi fechada. Os promotores do pânico moral também não puderam criar um pandemônio nas redes sociais, porque efetivamente, o "cidadão de bem", pelo menos o que não depreda patrimônio público, segue livre.
Como cientista política devo reconhecer que este mês, apesar do oito de janeiro, foi mais tranquilo que os anos sob Bolsonaro. Minha profissão parece fazer algum sentido agora que a política voltou à racionalidade que é sua razão de ser. É até reconfortante poder analisar o comportamento de atores políticos, ao invés de passar algum tempo estupefata diante do absurdo. Parece pouco, mas a Ciência Política agradece. Cabe agora acompanhar os próximos acontecimentos, na certeza de que a Terra seguirá redonda.
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