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Isso que chamam de amor é trabalho não pago
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Mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Pesquisa políticas públicas, em especial de combate à pobreza e de enfrentamento à pandemia; e teorias feministas. Faz parte da Red de Politologas e da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas

Isso que chamam de amor é trabalho não pago

Em um país de histórico escravocrata, as relações de trabalho estão impregnadas do colonialismo e racismo, não é possível compreender os lugares que mulheres ocupam na sociedade sem levar em consideração esse passado
Tipo Opinião
Ananda Marques, mestra em Ciência Política (UFPI), cientista política, professora e pesquisadora. Integra a Rede de Politólogas e a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas. 
 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Ananda Marques, mestra em Ciência Política (UFPI), cientista política, professora e pesquisadora. Integra a Rede de Politólogas e a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas.

Os desafios para enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado das mulheres no Brasil, este foi o tema da redação do Enem 2023. Como era de se esperar, foi assunto das redes sociais nos últimos dias, dando visibilidade a uma discussão antiga para os movimentos de mulheres e pesquisadoras sobre economia de cuidado, e bastante atual na conjuntura política, vide o Grupo de Trabalho Interministerial para construção da Política Nacional de Cuidados do Brasil, semelhante às iniciativas da Argentina, Colômbia, Chile e Uruguai.

A imagem da historiadora italiana Silvia Federici segurando uma bandeira na qual se lê "isso que chamam de amor é trabalho não pago" circulou um tanto e essa talvez seja uma imagem que condensa muito. Federici é uma das maiores referências para a discussão sobre o quanto vale para o capitalismo que mulheres sejam as cuidadoras do mundo, uma de suas pesquisas aponta para o papel da caça às bruxas no processo de confinamento de mulheres no ambiente doméstico e a exploração de trabalho reprodutivo como uma das bases para o avançar do capitalismo como sistema econômico. Sem o trabalho não remunerado e o trabalho precarizado de milhões de mulheres, principalmente negras, não há lucro.

Esse é um dos debates estruturantes para os feminismos porque expõe o entrelaçamento de diferentes dimensões na produção de desigualdades de gênero, raça e classe. Em um país de histórico escravocrata, as relações de trabalho estão impregnadas do colonialismo e racismo, não é possível compreender os lugares que mulheres ocupam na sociedade sem levar em consideração esse passado. Lélia Gonzalez, antropóloga brasileira, nos deixou um acervo intelectual inestimável. Dentre suas obras está "Racismo e sexismo na cultura brasileira", texto imprescindível para compreender a organização social dos cuidados.

Diante do diagnóstico de que existem desigualdades na distribuição do trabalho de cuidados, com efeitos políticos, econômicos e sociais, quais as possibilidades de enfrentamento? Precisamos de políticas públicas que garantam às mulheres o direito ao próprio tempo, é preciso a atuação do Estado a partir da implementação de equipamentos públicos e programas que reduzam a carga de trabalho das mulheres e promovam a educação de toda a sociedade para uma divisão equitativa.

 

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