Cientista política, professora e pesquisadora. Doutoranda em Ciência Política na Universidade de Brasília, mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí, pesquisa políticas públicas. Faz parte da Red de Politólogas e da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas. Escreve sobre política, literatura e psicanálise
Quase um ano e meio depois das eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo inelegível, segue capaz de mobilizar uma parte ativa da população, apesar das investigações que rondam a ele, familiares e aliados
No último 25 de fevereiro ocorreu uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, convocada pelo ex-presidente, Jair Bolsonaro. Rapidamente as redes sociais se dividiram entre aqueles que anunciavam o sucesso ou o fracasso do ato bolsonarista. Como a minha profissão carrega em si uma ética de responsabilidade, nos termos weberianos, é preciso ponderar que a realidade não é nem oito, nem oitenta.
Primeiro, precisamos situar a discussão com a gasta tecla da "polarização", quer gostemos ou não, o país está dividido há bastante tempo entre petismo e antipetismo, alguns diriam que desde a redemocratização, tendo em vista a presença do PT nos segundos turnos de todas as eleições presidenciais desde 1989. Entretanto, essa divisão, influenciada também pela onda da extrema-direita no mundo, deixou de ser apenas uma questão de preferência partidária e se tornou uma disputa pela sobrevivência do próprio sistema democrático.
Quase um ano e meio depois das eleições de 2022, o ex-presidente, mesmo inelegível, segue capaz de mobilizar uma parte ativa da população, apesar das investigações que rondam a ele, familiares e aliados. Bolsonaro chegou ao poder surfando a onda do já citado antipetismo, apoiado por militares, pelo agronegócio, uma parcela do empresariado, e da classe média mas, principalmente, evangélicos. Tanto tempo depois, quem eram as pessoas na paulista domingo passado?
Ao que tudo indica, mesmo com a presença de governadores, senadores e deputados, e um volume considerável de público, a chave de mobilização foi a religião. Através de dois pontos - a fala do presidente Lula sobre Israel e a ilha de Marajó, a máquina de fake news que alimenta a realidade paralela na qual vivem fanáticos bolsonaristas, rodou a todo vapor. É uma fórmula conhecida e que segue funcionando com essa fração significativa da população brasileira, fixada numa posição extremista.
Mas afinal, quais os efeitos do ato de domingo? Eu poderia arriscar que nada ou alguma coisa, mas, pela parcimônia de costume, diria que depende. Não é possível prever o futuro na ciência política, apenas acompanhar o presente, mapeando semelhanças com o passado. Bolsonaro está acuado, mas a postura das instituições é que dirá se uma manifestação lhe permitirá barganhar.
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