Cientista política, professora e pesquisadora. Doutoranda em Ciência Política na Universidade de Brasília, mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí, pesquisa políticas públicas. Faz parte da Red de Politólogas e da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas. Escreve sobre política, literatura e psicanálise
A ciência política tem por objeto um fenômeno, ou melhor, vários fenômenos, que são experienciados pelas pessoas, que determinam o espaço para escolhas, que orientam a tomada de decisão de cada indivíduo sobre sua própria vida
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil/Arquivo
Supremo Tribunal Federal (STF)
Em pouco mais de três décadas de vida já testemunhei um punhado de eventos históricos e aprendi a narrar os acontecimentos privados a partir dessa linha do tempo imaginária de fatos coletivos. A primeira memória política que tenho é a eleição de Firmino Filho a prefeito de Teresina, de alguém me dar uma bandeirinha enquanto passava uma carreata na minha rua.
No dia seguinte ao segundo turno de 2018 eu estava em Brasília, meu marido e eu fomos a um bar tradicional da capital federal, percebemos, ali, o clima que até então não havia chegado à ilha de São Luís. Em 2019 começamos um podcast, o Zero 98, para falar sobre política e passamos quatro anos comentando semanal ou mensalmente as notícias. Um batismo de fogo para a profissão que escolhi.
Vivi o que a cientista política Pippa Norris chamou de felicidade política, talvez ela tenha falado isso também em algum livro, mas foi no twitter que vi, em 2020 quando Trump perdeu para Biden. E felicidade política para alguém cuja profissão depende da existência da democracia tem uma camada a mais. Nos últimos tempos tenho refletido sobre como e por que me tornei cientista política, pois demonstrei um interesse ainda pequena por fenômenos políticos e decidi pela graduação em ciências sociais com apenas quinze anos.
Sabia pouca coisa de qualquer coisa, mas sabia o que me interessava. Então agora, novamente dando aula de ciência política tenho me deparado com uma tentativa de explicar o que é que fazemos. Me ensinaram que fazemos ciência, isso eu consigo transmitir, mas aprendi, pela experiência, que não é uma ciência como as outras. E o fenômeno que estudamos não pode ser observado como a um objeto que cai em queda livre ou elementos que misturados explodem no laboratório.
A ciência política tem por objeto um fenômeno, ou melhor, vários fenômenos, que são experienciados pelas pessoas, que determinam o espaço para escolhas, que orientam a tomada de decisão de cada indivíduo sobre sua própria vida, pois determinam as condições em que vivemos. Por isso, testemunhar mais um evento histórico, o julgamento de um ex-presidente que atentou contra a democracia, é uma dessas experiências que fazem fratura no que há de cristalizado, produz algo novo.
Muitas vezes ouvi de um orientador que o nosso papel é acrescentar o tijolinho no muro do conhecimento. Apenas no lugar de professora, após anos afastada da sala de aula e depois ter experienciado tantos fatos históricos e amadurecido como ser humano, que consigo elaborar esse tijolinho a mais que desejo oferecer à minha profissão, a tentativa de costurar a ficção entre público e privado para um novo texto sobre a política. Falhei e falharei, mas seguirei apostando na invenção.
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