Cientista política, professora e pesquisadora. Doutoranda em Ciência Política na Universidade de Brasília, mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí, pesquisa políticas públicas. Faz parte da Red de Politólogas e da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas. Escreve sobre política, literatura e psicanálise
A pauta da segurança e as eleições de 2026: como a opinião pública molda o voto
A aprovação da atuação policial aponta para a relação da sociedade brasileira com a mão armada do Estado, os efeitos das duas décadas de ditadura militar são longevos, reverberando quarenta anos depois de seu fim
Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP
Bombeiros e moradores carregam corpos na Praça São Lucas, na favela de Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, no Ro de Janeiro após a Operação Contenção
Dias após a operação policial no Rio de Janeiro, que resultou em pelo menos 121 mortos, pesquisas de opinião revelam que, apesar da imagem chocante de dezenas de corpos enfileirados na Praça São Lucas, o apoio à operação é maior do que a desaprovação.
Na pesquisa Quaest, divulgada em 3/11, temos 64% de aprovação; na pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, divulgada em 01/11, 69,6% de aprovação, e na pesquisa do Instituto AtlasIntel, divulgada em 31/10, 62,2% de aprovação. Ainda que existam variações na porcentagem de apoio, fica evidente que há um consenso na opinião pública sobre o uso da violência no enfrentamento ao crime organizado.
A aprovação da atuação policial aponta para a relação da sociedade brasileira com a mão armada do Estado, os efeitos das duas décadas de ditadura militar são longevos, reverberando quarenta anos depois de seu fim. Ao que parece, para o brasileiro médio, apesar de não haver formalmente pena de morte no país, a polícia tem autoridade para matar suspeitos sem o devido processo legal, e se este for inocente, é um efeito colateral.
Esse é um ponto fundamental da ascensão da extrema-direita na última década, pois políticos desta ala souberam unir a cultura política autoritária e violenta dos brasileiros com a manipulação do medo que o aumento da criminalidade causa. Enquanto representantes da esquerda mobilizam argumentos de prevenção da violência e promoção da cultura de paz a partir de políticas públicas de longo prazo, sendo associados por seus opositores como "defensores de bandidos".
Por isso, é possível perguntar se a ação estadual tem objetivos eleitorais, com vistas a 2026 e a indefinição sobre quem será o candidato contra a reeleição de Lula (PT), pois foi anunciado logo após a operação o "Consórcio da Paz", formado por sete governadores de direita.
Na Ciência Política sabemos que o voto é explicado por variáveis sociodemográficas que se relacionam com a opinião do eleitorado, e dentre as pautas mais importantes para a decisão sobre em quem votar estão a economia, a segurança e a corrupção. Portanto, diante do fato de que brasileiros, por várias razões, apoiam a atuação violenta das polícias, tentar convencê-los do contrário é ineficaz.
Não por acaso, a resposta de comunicação do governo federal foi evitar críticas abertas ao governo do RJ e propor a aprovação da PEC da Segurança Pública como medida efetiva para o enfrentamento do crime organizado. Mas resta saber qual será a estratégia adotada por Lula e seu partido nas eleições de 2026 para tratar do tema que parece ser o calcanhar de Aquiles diante da extrema-direita. Afinal, as pessoas podem se horrorizar com a opinião alheia, mas aos candidatos cabe conseguir votos.
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