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Não é o LGBT que se afasta dos estádios, é o ambiente homofóbico que o afasta
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc

André Bloc esportes

Não é o LGBT que se afasta dos estádios, é o ambiente homofóbico que o afasta

Colunista remonta trajetória pessoal como frequentador de estádios e conta como a homofobia o afastou de algo com que conviveu desde jovem
Tipo Opinião
A estratégia visa solucionar crimes de forma mais rápida (Foto: Jasmin Sessler / Pixabay )
Foto: Jasmin Sessler / Pixabay A estratégia visa solucionar crimes de forma mais rápida

Como estreia desta trincheira, na semana passada, apresentei os porquês para se dedicar espaço nobre de jornal para a (supostamente) tangencial discussão sobre minorias e direitos humanos no esporte. Agora, no segundo ato, vou me permitir a vaidade de me debruçar no quem.

Eu acompanho esportes desde criança. Talvez fosse forma de me dobrar à heteronormatividade que me circundava. Talvez seja parte da minha personalidade. A linha já foi apagada faz tempo e hoje tanto faz — é parte de mim, independentemente do caminho que tenha sido traçado. Fato é que desde criança eu era fanático por estatísticas (e isso nem moda era) e sabia de cor regra de qualquer jogo que aparecesse pela televisão. Ali pela adolescência passei a frequentar estádios e devo ter ido a alguma centena de partidas.

Isso até 2006, quando minha vida mudou. Quando eu tive de encarar o espelho, o abismo interno, e lidar com questões que eu optara por ignorar. Primeiro ano de faculdade, saí do meu primeiro armário e contei ser gay pra um amigo. Três anos depois, contei pra minha família. Ali por 2012, 2013, escrevi o primeiro artigo aqui no O POVO em que mencionava o fato de ser homossexual. E por que isso é importante no contexto esportivo, ao que me atenho?

Porque minha vida tem um hiato. Eu só fui entender porque deixei de frequentar estádios em 2017. Em viagem a Belo Horizonte, fui ao Mineirão junto ao amigo e colunista de política Érico Firmo, para um belíssimo Cruzeiro 3x3 Grêmio. O jogo nem bem tinha começado quando toda a sorte de homofobia e machismo já fora gritada pela torcida. Não que os torcedores da Raposa sejam particularmente preconceituosos, mas porque é assim que as coisas são. É assim que manda o status quo.

O que me afastou do estádio não foi ser homossexual. O que me afastou foi a homofobia.

É uma experiência dolorosa que praticamente toda pessoa LGBTQIA+ precisa encarar e eu apartei esse pedaço de mim, o estádio, para sempre. Menos de um ano depois dessa viagem, logo antes da Copa do Mundo da Rússia-2018, virei editor de esportes do O POVO. Acaba que é um marco de uma editoria que já foi pioneira ao ter uma mulher como editora, a Ana Flávia Gomes.

Aqui é importante pontuar que nem eu assumi a editoria por ser gay, nem a Ana Flávia anos atrás por ser mulher. Isso é tão válido como o fato de eu ser homossexual não me afastou dos estádios. O que me mantém próximo aos esportes é ter vivido o tema a minha existência toda, a ponto de acumular bagagem e poder compartilhar conhecimentos com uma editoria majoritariamente masculina, branca e heterossexual — mas 100% aberta a ouvir, aceitar e abraçar. Jornalismo é ofício coletivo, tanto quanto jogar bola.

Por conta disso e de tanto mais, este espaço aqui, essa porta de janelas abertas, tem razão de ser. Quando um LGBTQIA+ escreve semanalmente sobre esportes, todos os outros têm a prova de que eles também podem.

Foto do André Bloc

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