Quem se importa com a orientação sexual de Ayrton Senna?
Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Quem se importa com a orientação sexual de Ayrton Senna?
Certo ex-piloto, no alto da frustração, gosta de reavivar boatos sobre a orientação sexual do antigo rival, Ayrton Senna. As únicas duas explicações possíveis são interesse afetivo ou uma homofobia transbordante
Deve ser difícil ser famoso, importante, requisitado, e, de repente, ver ruir a própria relevância. É algo intrínseco da fama, você só tem valor enquanto gera dinheiro, audiência, empatia. Quando ela cessa, morrem juntos seus superpoderes.
Nelson Piquet foi um piloto brilhante. E ter perdido holofotes com o surgimento de Ayrton Senna, naturalmente, deve ter imposto uma ferida narcísica no ego de alguém que competia para ser o melhor do mundo. E, bom, numa competição tão rica, as batalhas de vaidade devem ser homéricas. E o tricampeão mundial de Fórmula 1 nunca foi conhecido por ser politicamente correto ou por levar desaforo para casa.
Enquanto insistia em chamar a esposa do rival Nigel Mansell de feia — uma baixaria infantil —, Piquet também ganhou notoriedade por levantar a hipótese da homossexualidade de Senna.
Só dois tipos de pessoas se interessam em saber a orientação sexual de outra. Quem tem interesse afetivo na pessoa ou quem quer fazer chacota sobre a sexualidade do sujeito. E, para que não restem dúvidas, quem sente prazer ao fazer piada sobre a suposta homossexualidade de alguém é homofóbico.
Senna morreu em 1994. A mim, pouco interessa se ele transava com homens ou mulheres, já que, bom, ele está morto. Piquet parece buscar uma causa para sujar o legado do rival, que era mais carismático, mais bonito, mais amado e encerrou a vida com mais títulos com ele. E, bom, eles conviveram por muitos anos, tenho certeza de que uma mente afiada como a do tricampeão seria capaz de encontrar um fio solto mais promissor.
Piquet abandonou as páginas esportivas, em prol das de fofoca. E das mais baixas. Priorizou uma carreira de choffer político, que o levaram às páginas policiais. Isso, sim, é sujar um legado. O máximo de mídia esportiva que ele consegue é de colunistas que insistem em repercutir o que ele fala — ainda que para criticá-lo.
Encerrar uma carreira vitoriosa é difícil. Você deixa de ser amado para ser um cidadão quase comum. É difícil esquecer o superpoder de poder mobilizar a mídia.
Mas, bem, em alguns casos, a aposentadoria faz a derrota subir à cabeça.
*A coluna se referiu erroneamente a Piquet como "bicampeão", quando na verdade ele foi tricampeão de Fórmula 1 (1981, 1983 e 1987). Conforme está claro, as críticas são ao ser humano, já que o piloto foi brilhante
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