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Quem se importa com a orientação sexual de Ayrton Senna?
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc

André Bloc esportes

Quem se importa com a orientação sexual de Ayrton Senna?

Certo ex-piloto, no alto da frustração, gosta de reavivar boatos sobre a orientação sexual do antigo rival, Ayrton Senna. As únicas duas explicações possíveis são interesse afetivo ou uma homofobia transbordante
Tipo Opinião
Ayrton Senna é considerado uma das maiores lendas do esporte mundial; morte do piloto completa 28 anos (Foto: Jean-Loup Gautreau/ AFP)
Foto: Jean-Loup Gautreau/ AFP Ayrton Senna é considerado uma das maiores lendas do esporte mundial; morte do piloto completa 28 anos

Deve ser difícil ser famoso, importante, requisitado, e, de repente, ver ruir a própria relevância. É algo intrínseco da fama, você só tem valor enquanto gera dinheiro, audiência, empatia. Quando ela cessa, morrem juntos seus superpoderes.

Nelson Piquet foi um piloto brilhante. E ter perdido holofotes com o surgimento de Ayrton Senna, naturalmente, deve ter imposto uma ferida narcísica no ego de alguém que competia para ser o melhor do mundo. E, bom, numa competição tão rica, as batalhas de vaidade devem ser homéricas. E o tricampeão mundial de Fórmula 1 nunca foi conhecido por ser politicamente correto ou por levar desaforo para casa.

Enquanto insistia em chamar a esposa do rival Nigel Mansell de feia — uma baixaria infantil —, Piquet também ganhou notoriedade por levantar a hipótese da homossexualidade de Senna.

Só dois tipos de pessoas se interessam em saber a orientação sexual de outra. Quem tem interesse afetivo na pessoa ou quem quer fazer chacota sobre a sexualidade do sujeito. E, para que não restem dúvidas, quem sente prazer ao fazer piada sobre a suposta homossexualidade de alguém é homofóbico.

Senna morreu em 1994. A mim, pouco interessa se ele transava com homens ou mulheres, já que, bom, ele está morto. Piquet parece buscar uma causa para sujar o legado do rival, que era mais carismático, mais bonito, mais amado e encerrou a vida com mais títulos com ele. E, bom, eles conviveram por muitos anos, tenho certeza de que uma mente afiada como a do tricampeão seria capaz de encontrar um fio solto mais promissor.

Piquet abandonou as páginas esportivas, em prol das de fofoca. E das mais baixas. Priorizou uma carreira de choffer político, que o levaram às páginas policiais. Isso, sim, é sujar um legado. O máximo de mídia esportiva que ele consegue é de colunistas que insistem em repercutir o que ele fala — ainda que para criticá-lo.

Encerrar uma carreira vitoriosa é difícil. Você deixa de ser amado para ser um cidadão quase comum. É difícil esquecer o superpoder de poder mobilizar a mídia. 

Mas, bem, em alguns casos, a aposentadoria faz a derrota subir à cabeça.

 

*A coluna se referiu erroneamente a Piquet como "bicampeão", quando na verdade ele foi tricampeão de Fórmula 1 (1981, 1983 e 1987). Conforme está claro, as críticas são ao ser humano, já que o piloto foi brilhante

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