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Manipulação não foi invenção das "bets"
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc

André Bloc esportes

Manipulação não foi invenção das "bets"

França e Irã protagonizaram suposto "jogo da queda" no futsal, tal qual o Brasil fez com a Bulgária em 2010, no vôlei. Apostas esportivas são fator novo, que agrava a situação
Bernardinho comandava o Brasil no título com asterisco do Mundial de 2010 (Foto: Divulgação/CEV)
Foto: Divulgação/CEV Bernardinho comandava o Brasil no título com asterisco do Mundial de 2010

Marmelada. Qualquer atleta que deliberadamente "entrega" um jogo deveria ser banido. É algo que fere de morte o espírito esportivo. É como usar forças externas para vencer uma suposta disputa entre iguais. É trapaça, ainda que indireta.

Copa do Mundo de futsal masculino, no Uzbequistão. Irã e França duelavam na derradeira partida da primeira fase. Quem vencesse, se classificaria em primeiro para encarar o forte Marrocos, que passou em segundo do grupo do favorito Portugal. Já o derrotado iria cruzar com a Tailândia, time ligeiramente mais fraco. De quebra, o superado da partida driblaria o risco de encarar o Brasil logo nas quartas de final.

Ou seja, quis o regulamento que, esportivamente, fosse mais interessante perder do que ganhar. E o jogo foi tão ruim quanto soa. Favorito, o Irã acabou vencendo por 4 a 1, porque o menor esforço francês se sobressaiu. Foi um "jogo da queda", que lembrou o "jogo da vergonha" do vôlei, 14 anos atrás.

Mundial de vôlei masculino de 2010. Classificados, Brasil e Bulgária se enfrentaram na partida final da segunda fase. Quem vencesse caía no forte grupo de Cuba e Espanha. Quem perdesse iria para o "ameno" agrupamento com Alemanha e Tchéquia.

A seleção brasileira, treinada por Bernardinho, estava sem o levantador reserva, Marlon, que tinha um desarranjo gastrointestinal. O técnico, então, resolveu poupar o time titular — incluindo o próprio filho, único homem da segunda bola remanescente. A Bulgária também poupou o time, mas impôs a lei do menor esforço para ganhar — ou maior esforço para perder. Giba, craque do time, e o próprio Bernardinho admitiram a marmelada alguns anos depois.

O Brasil era o favorito naquele Mundial e acabou vencendo Cuba na final, na qual conquistou um título com asterisco. Tenham ou não decidido perder, Irã e França não terão a mesma sorte. Os iranianos são quartos do ranking mundial, os franceses são décimos, mas o título não deve fugir de brasileiros, espanhóis, portugueses ou argentinos, os únicos donos de taça no futsal global.

O esporte tem muitas belezas. Uma delas é a simplicidade de sempre jogar para ganhar. Soma zero: um ganha, outro perde. Todos tentam.

O cassino online — as "bets", como se convencionou chamar — não foi onde nasceu a manipulação de resultados esportivos. Ela é mais antiga, nascida da psique humana. Ambição, ganância, orgulho, num tabuleiro povoado por apostas em cartões amarelos, derrotas intencionais e doping.

 

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