Façamos uma Caravana Júlio Salles, levando futebol pro Interior
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
Façamos uma Caravana Júlio Salles, levando futebol pro Interior
"Voz do Fortaleza", o narrador Júlio Salles morreu nessa terça-feira, 11, aos 83 anos. O locutor cearense de coração deixa um legado no rádio local
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Júlio Salles é um ícone da crônica esportiva cearense
O torcedor tricolor passou essa terça-feira, 11, com a voz embargada, como se um carinhoso mata-leão lhe apertasse a garganta. Era, na realidade, um último "mata, Leão", entalado no fundo da glote, na despedida de um narrador que foi mais do que um descrevedor de gols.
Júlio Salles era companhia na arquibancada de quem queria saber dele aquilo que acabara de presenciar. Era um ícone para quem aprendeu a gostar de futebol num tempo que Ceará e Fortaleza não sonhavam em ser marca internacional.
Eram outros tempos, que mostram que alguns Fla-Flus são antigos. Hoje, por vezes, a busca pela neutralidade se impõe, mas nem sempre foi assim. Teve o enquanto quando a torcida alvinegra só escolhia Gomes Farias, na Verdinha e a do tricolor sintonizava Júlio Salles, na Assunção. Era quando narrar era torcer junto.
A mim, que era assíduo de estádio — principalmente o PVzim de açúcar da era dos vãos na subida para a arquibancada —, o rádio parecia algo acessório. Mas eu me lembro até hoje da primeira vez que vi e falei com o Júlio, em uma festa que entrei de penetra no Ideal Clube.
Se o rádio para mim era complemento, para milhares era completude do torcer. Sem acesso ao time, em tempos em que a palavras streaming não só soava absurdamente estrangeira, como totalmente alienígena, o rádio era a única ponte.
Sem Júlio Salles, a dimensão da torcida do Fortaleza seria eternamente enclausurada nos limites da Capital. A voz do Veterano permitiu que o torcedor sonhasse, de Jijoca de Jericoacoara a Penaforte, de Icapuí a Granja.
Terminados os lamentos, as despedidas devidas deste mês agora de luto, proponho algo novo. O Fortaleza devia encher um ônibus de ídolos celebrados pelo narrador de todos os esportes — do Homem-Raio Rinaldo ao Capetinha Clodoaldo —, para rodar pelo interior adentro.
Levar ídolos para os torcedores que só ouviram falar deles por meio da poderosa, e agora calada, voz de Júlio Salles. Proponho mais. Que os craques levem camisas do Fortaleza e ofereçam ao torcedor, em troca de um trapo velho de outro clube.
Os times hoje são milionários. Podem fazer o que lhes der na telha. Que aprendam com Júlio Salles a grandeza que sempre tiveram — e que só ele levava aos rincões.
Assim nasce a Caravana Júlio Salles.
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