Racismo e antirracismo na Copa do Mundo "da América"
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
Racismo e antirracismo na Copa do Mundo "da América"
Goste-se ou não do novo modelo de Mundial de Clubes imposto pela Fifa, tornou-se impossível negar o sucesso da empreitada
Foto: Paul Ellis / AFP
Durante a partida, o zagueiro alemão Antonio Rüdiger, do Real Madrid, se desentendeu com o argentino Gustavo Cabral dentro da área e, visivelmente irritado, alegou ter sido alvo de uma ofensa de cunho discriminatório
Real Madrid x Pachuca, no estádio Bank of America, em Charlotte, para um público de 70.248 torcedores. A equipe mexicana, seis vezes campeã da "Concachampions", pressiona o rival, 11 vezes vencedor da Liga dos Campeões da Europa.
Os merengues vencem por 3 a 1, com todo o poderio financeiro infinito que o peso da camisa permite. Eis que na democracia comandada por Donald Trump, — que brinca de senhor da guerra no Oriente Médio —, o jogo é interrompido após acusação de ofensa racista. O zagueiro alemão Toni Rüdiger, do Real Madrid, se mostra indignado com o companheiro de ofício do Pachuca, o argentino Gustavo Cabral.
Confesso que gostei do absurdo da cena — obviamente, não da (suposta) ofensa em si. Em pleno país que permite atos públicos de neonazistas assumidos sob pretexto de assumir como regra incontestável uma carta de direitos escrita em 1787, o jogo parou porque alguém extrapolou seu direito à liberdade de expressão.
Nisso, vejo o peso do Brasil no palco da Copa do Mundo globalista. Aqui, não falo em específico da correta atuação do árbitro Ramon Abatti Abel, que interrompeu a partida ao iniciar os protocolos antirracistas. Aponto para o fato de que o nosso país se tornou o centro da narrativa contra ofensas racistas, tanto jurídica, quanto esportivamente.
Aqui, racismo é crime — e as injúrias racistas e homofóbicas são enquadradas nesta mesma legislação. Portanto, é natural que uma partida seja interrompida para impedir o desenrolar de ato criminoso. Nos Estados Unidos, não. O Brasil iniciou a cruzada dentro dos estádios nacionais, onde seja por consciência social ou por conveniência para evitar punições esportivas, os casos rarearam.
O campo de batalha foi ampliado. Na Europa, Vinícius Júnior, do mesmo Real Madrid, respondeu com revolta aos insultos e obrigou a Fifa a tratar do tema. Na América do Sul, os times brasileiros entraram em conflito com a sempre conivente Conmebol, após inúmeros ataques racistas em estádios de Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.
O principal palco do mundo hoje é nos Estados Unidos, goste-se ou não. E a existência de um protocolo antirracista em estádios, mesmo em um país que reconhece como legítimo um discurso supremacista, é fruto de uma luta internacional da população negra. Luta esta encampada por astros brasileiros, encorpada por clubes brasileiros e chancelada pela legislação brasileira.
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