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Copa do Mundo em tempos de eventos extremos
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO

André Bloc esportes

Copa do Mundo em tempos de eventos extremos

A surreal cena de um trovão interrompendo uma final de Mundial está cada vez mais possível. E a legislação dos Estados Unidos não é a vilã neste contexto
O Chelsea terminou vencendo o jogo por 4 a 1, com três gols na prorrogação, para sorte de quem perseverou (Foto: FEDERICO PARRA/AFP)
Foto: FEDERICO PARRA/AFP O Chelsea terminou vencendo o jogo por 4 a 1, com três gols na prorrogação, para sorte de quem perseverou

É pitoresco. Quarenta minutos do segundo tempo. O Chelsea controla um jogo que vence por placar mínimo, quando as autoridades no estádio Bank of America, em Charlotte (EUA), ouvem um trovão e notam a tempestade que se avizinha. Partida suspensa por meia hora. E mais meia hora. E mais meia hora. Na volta, a bola desvia no braço de um lateral dentro da área e o Benfica leva o jogo para a prorrogação.

Esportivamente, o desenrolar da vitória do Chelsea sobre o Benfica — após meia hora de tempo extra — foi desmedido. Deu sorte quem perseverou e viu mais três gols, fechando o 4 a 1 para os ingleses. Não muda o fato de que o nível de disciplina tática, cansaço, concentração, variam após uma longa pausa por condições climática extremas. Mas por mais satisfatório que seja ironizar a organização da Copa do Mundo de Clubes feita nos Estados Unidos, é importante sublinhar que as famigeradas paralisações se fundamentam em boa ciência.

A ideia central da legislação — válida para todos os eventos públicos em espaços abertos do país do fast food — é evitar mortes. Ou seja, está correta, ainda que corra-se o risco de ferir princípios esportivos da competição justa. O problema central não é o esporte ou a prevenção de tragédias. O que mata é a situação que nós deixamos o planeta que habitamos.

Uso de combustíveis fósseis, emissão de gases do efeito estufa, derrubada de florestas nativas, consumo desenfreado. São muitas as razões para o avanço das mudanças climáticas. Todos eles são antrópicos, isto é, causados pelos humanos. Tudo isso intensifica o que antigamente chamávamos de "aquecimento global", termo este que caiu em desuso porque ficar mais quente por vezes implica em ficar mais frio. 

O que se sobressai desse caldo é um risco aumentado, uma frequência mais notável, de eventos climáticos extremos. E desses, camarada, a gente não foge.

O futebol não é imune ao que ocorre no mundo. Se a Copa do Mundo de Clubes fosse em Portugal, por exemplo, os jogadores encarariam um calor de 46º, como o registrado em junho. No ano passado, várias cidades do Rio Grande do Sul alagaram e o esporte teve de ficar de lado em prol da solidariedade humana. Tudo isso é consequência de nossas ações, das ações dos nossos antepassados.

Talvez vai chegar um dia em que jogar bola na rua não seja mais possível, diante de calores, chuvas, frios. Talvez se uma final de Copa do Mundo — aquela de seleções — for interrompida por variação extrema de tempo, os 2 bilhões de fãs de futebol entendam que nada é mais urgente que a questão climática.

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