Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
Então repórter de Cultura cedido ao Esportes, cobri a "tragédia" do Brasil em 2014 em um restaurante alemão de Fortaleza. O fato de eu rir daquele dia redimensiona tudo para mim
Foto: ADRIAN DENNIS / AFP
Brasil e Alemanha se enfrentaram durante a semifinal da Copa do Mundo de 2014
Era terça-feira, fim de tarde. Em cada mesa, uma caneca de chope, um salsichão e uma batata rosti. Menos na nossa: estávamos a trabalho.
Era o terceiro jogo que eu cobria no bar e restaurante O Alemão, na Varjota. Nas primeiras, eu estava só, quase como setorista de uma das favoritas ao título na Copa do Mundo de 2014. Mas naquela terça era jogo do Brasil, e junto a mim estavam o fotógrafo Fábio Lima e o ilustrador Guabiras, o que me dava uma esperança de companhia na celebração.
Vã esperança. Fábio se manteve focado no público — brasileiros de ascendência europeia e com ares de rejeição do que rima com Brasil. Guabiras, contracultural como só ele, ecoava o sentimento anti-Copa das manifestações de 2013.
Todo Mundial desde antes, desde então, aposto que o Brasil vai ganhar a Copa do Mundo. Um dia eu acerto. Não foi naquele 8 de julho. O otimismo é uma roupa que só visto pela seleção, e, como não me veste bem, os hábitos de pessimista ainda apertavam no cós. Porque por mais cheio que eu tentasse ver o copo, a força dos alemães prenunciava a tragédia.
A cada gol que celebravam à minha volta, eu olhava o entorno em busca de um olhar solidário. Pensava na redação do O POVO, onde a cerveja estava liberada e meus editores me serviram depois da vitória sobre a Croácia, que assisti no campinho da Boa Vista.
Na volta à redação, era como cobertura de tragédia. No jornalismo, a gente se acostuma a deixar para sentir depois, porque o lide vem antes. A minha cobertura, de acessória, acabou ganhando protagonismo — afinal, era eu quem estava com os alemães. E a cerveja quente servida com desânimo não mais me interessava.
Essa natureza fria do jornalista por vezes deixa traumas. A gente se nega a sentir em prol da notícia. O que aumenta a força da pancada quando o coração desacelera.
Faz 11 anos. E só agora entendi que naquele dia não fiz parte da cobertura de uma tragédia. Porque as hecatombes não veram anedotas. O 7 a 1 me faz rir saudosamente. A perspectiva do tempo deu a dimensão que o futebol deveria ter.
Aquele dia virou, para mim, uma parábola sobre o passar do tempo. Eu nunca faria isso com as memórias da cobertura da queda do avião da Chapecoense ou do incêndio do Ninho do Urubu. A "tragédia" esportiva tem aspas, porque ela é parte do jogo. A da vida é um tabu que pretendo respeitar.
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