Inclusão de LGBTQIA+: golaço do Ceará, gol contra do Maracanã
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
Inclusão de LGBTQIA+: golaço do Ceará, gol contra do Maracanã
Neste mês, dois fatos movimentaram a cultura de diversidade sexual entre os clubes cearenses: homenagem a Silvero Pereira pelo Ceará e punição ao Maracanã por homofobia
Foto: Marcelo Vidal / Ceará SC
Silvero Pereira recebe camisa do Ceará de Anacleto Figueiredo Neto, diretor do Centro Cultural do clube
Muito time só lembra do torcedor LGBTQIA+ durante o mês da diversidade, em junho. Quando muito, há aqueles que fazem uma única postagem a cada dia 28 e que a gente se dê por satisfeito. Poucos anos atrás — na gestão passada —, o Ceará nem mesmo entrava no rol daqueles que botavam uma bandeira do arco-íris e fingiam que se importavam uma vez por ano.
A postura pública do Ceará mudou há anos. Culminou no último dia 12, sábado de véspera de Clássico-Rei, quando um ícone da cultura LGBT cearense recebeu a comenda "Notável Alvinegro" e palestrou para o elenco sub-17 do clube.
A homenagem e a presença do multiartista Silvero Pereira como estrela do clube em um dia qualquer — sem uma data-desculpa para fingir que se importa — é uma forma de a agremiação mostrar que lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans, são bem-vindos à arquibancada. Todo torcedor importa, todo grito de apoio é um empurrão. Todo dia é dia da diversidade sexual.
O ator cearense foi ainda homenageado no jogo contra o Corinthians, sendo convidado a finalmente assistir ao time no estádio — um ambiente costumeiramente arisco para LGBTs. Antes do jogo, Silvero traduziu essa ambiguidade para um torcedor sexualmente diverso. "Sempre sonhei (em ver um jogo no estádio), sempre quis, mas tinha receio. Agora me sinto abraçado e estou ansioso por esse momento", disse.
Destaco ainda a fala de Fernando Martilis, assistente social das categorias de base do Alvinegro, dimensionando a importância da palestra de Silvero. “Trabalhamos nas categorias de base a perspectiva de formação integral do sujeito. Incorporando a formação do atleta, como do cidadão. O Silvero é motivo de orgulho para a história do Ceará. É um cara com uma trajetória linda e incrível. (...) E traçou uma trajetória de saber aproveitar as oportunidades, de saber se preparar. É um paralelo perfeito com a formação do futebol”, pontuou Fernando Martilis.
Maracanã e a punição por homofobia
Em decisão inédita na Justiça Desportiva brasileira, o Maracanã perdeu os três pontos que havia ganhado pela vitória sobre o Iguatu, no dia 4 de maio, pela Série D, em decorrência de gritos homofóbicos da torcida.
São comuns os registros de homofobia em estádios, mas o time de Maracanaú é punido por um jogo com 483 torcedores presentes — e quase metade deles eram não pagantes. A legislação prevê tal sanção, mas ela veio em um contexto em que era irrelevante, pois o Maracanã já estava virtualmente eliminado da quarta divisão nacional.
Diante da dimensão do Maracanã, é até difícil cobrar mudanças, cobrar posturas ou ações. O que posso fazer é levantar a questão de que o ataque homofóbico intimida qualquer torcedor LGBTQIA+ a ir aos estádios. E não é como se o Bicolor Metropolitano tivesse muitos adeptos.
Que fique a lição. E que ela não se restrinja ao Maracanã, para quem coube — por conveniência — a marca histórica de ser o primeiro time a sofrer uma sanção esportiva por ato homofóbico da torcida.
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