Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
A minúscula ambição de salvar do rebaixamento o time que o revelou mostra o quanto a carreira do ex-candidato a melhor do mundo nunca chegou ao patamar que se projetava
Foto: MARCELLO ZAMBRANA/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO
Atacante Neymar sai de campo chorando no jogo Santos x Vasco, no Morumbis, pelo Campeonato Brasileiro Série A 2025
Neymar chorou. E prometeu se reerguer. O Santos, ameaçado pelo rebaixamento, foi humilhado no Morumbi pelo fraco time do Vasco, com um 6 a 0 acachapante. Todos os olhares se voltaram ao camisa 10, o salvador da pátria, o filho pródigo que retornou sendo recebido com tapete vermelho e contrato multimilionário.
Pendurar a responsabilidade pela derrota toda na conta de Neymar é injusto, uma vez que futebol é jogado com 11 em cada lado. Mas a cobrança tem lá sua justiça poética: o atleta voltou ao Brasil para poder "sobrar" em campo enquanto todos os holofotes se voltavam a ele, o pretenso craque do hexa que nunca veio.
Levando-se em consideração o investimento e a dimensão que Neymar um dia teve, a "volta pra casa" dele seria tachada de fracasso facilmente. São apenas 19 partidas no ano, com 6 gols e 3 assistências. É a pior média de participações em gols em toda a carreira — inferior inclusive à primeira, em 2009, quando tinha 17 anos.
Pedro Raul, centroavante do Ceará, marcou 14 vezes e não há clamor por ele no comando de ataque da seleção. Memphis Depay, atacante neerlandês do Corinthians, também voltou ao Brasil em meio a baixa da carreira, também lidou com lesões, mas entregou muito mais. São 39 jogos, 12 gols, 11 assistências — e há quem argumente que ele decepcionou. Giorgian de Arrascaeta, meio-campista do Flamengo, balançou a rede 15 vezes, serviu os companheiros outras 11 e mostra o que é desempenho de elite no futebol nacional.
Pode-se argumentar que os números são baixos diante do pequeno número de jogos ou da dificuldade de sequência. Mas isso tudo também vem de quem ele se mostrou como jogador de futebol. Desde a temporada 2017/2018, quando se transferiu do Barcelona para o Paris Saint-Germain na maior venda da história do futebol, Neymar nunca entrou em campo mais de 40 vezes.
Neymar é o jogador mais talentoso do Brasil desde Ronaldinho. Mas parece que ficou para trás. Talvez por ter demasiados focos. O Instagram dele, com mais seguidores do que o Brasil tem de habitantes, posta uma propaganda a cada três dias. Ele é competidor de poker, de Counter Strike: Global Offensive, é dono de equipe de Kings League. E tem as festas. E os filhos. E os aniversários da irmã. E das crias. Sem esquecer dos negócios com o pai-xará. Ou os réveillons e carnavais de lei; ninguém é de ferro e certamente Neymar é feito de um material mais frágil que uma liga metálica.
É como uma anedota que papagueio vez ou outra. "Como você consegue fazer tanta coisa ao mesmo tempo", perguntam. "Sendo ruim em todas", respondo.
Neymar tem talento para se reerguer. O lugar disso não é na seleção brasileira. Mas, veja lá, Ronaldo em 2002 me mostra que Neymar ainda pode calar minha boca.
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