Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
O famigerado caça-clique no jornalismo ganhou uma nova modalidade: a atualidade temporalmente descontextualizada
Foto: NELSON ALMEIDA/AFP
O piloto brasileiro Felipe Massa, que não vai voltar para a Fórmula 1 em 2025
Era uma segunda-feira qualquer na academia. Absorto em não me focar em assuntos relevantes, pesquei o celular entre uma série de exercícios e outra e abri o Google Chrome, que me delicia com um vasto cardápio de matérias de fascinante irrelevância. Até que.
"Lenda do tênis com 17 Grand Slams e 3 medalhas olímpicas morreu aos 49 anos". No susto, clico. Tratava-se da tcheca Jana Novotná, uma das maiores duplistas do circuito feminino. Uma perda muito triste, após uma longa batalha contra o câncer. O problema é que tal perda ocorreu em 2017.
Dias depois, estava eu no Bluesky — única rede social que oficialmente uso — quando um perfil grande daquela pequena rede se queixava da seguinte manchete: "Felipe Massa aceitou salário de 4,7 milhões de euros para correr mais uma temporada na Fórmula 1". É tudo verdade, mas ocorreu oito anos atrás.
Sem querer apontar o dedo aos colegas — ou seja, apontando o dedo aos colegas —, me parece que o caça-cliques evoluiu para uma modalidade de pós-verdade: uma distorção espaço-temporal da verdade, para ser mais preciso. E, sem querer eximir ninguém, a questão me parece mais um sintoma da gula infinita das big techs e da falta de rumo das redações.
A nova morte de Jana Novotná chegou a mim porque o algoritmo do Discover — outrora excelente feed do Google — priorizou um conteúdo feito para enganar trouxas em vez de oferecer algo de fato factual. No fim, me senti traído pelo jornalismo e marquei o nome do veículo de quem nunca mais consumirei conteúdo.
O jornalismo, em crise desde bem antes de eu receber meu diploma em 2010, vai tentando servir ao deus Big Tech, que oferece um afago com uma mão enquanto minera todo o seu conteúdo para usar na próxima IA da moda com a outra. Assim, vai perdendo a própria identidade e se desconectando do próprio público.
Jornalismo é — ou deveria ser — apuração e empatia. E creio que a solução para o quiproquó em que nosso meio se encontra esteja nos sentimentos orgânicos, não no ilusionismo retórico do algoritmo da vez.
No fim de tudo, espero que os futuros jornalistas aprendam a escrever para pessoas. Porque a impressão é que, por vezes, estamos os ensinando a ser consumidos por um leitor de código de barras.
Este texto foi revisado no ChatGPT
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