Clássico-Rei do futsal: torcidas com fogos sobre um barril de pólvora
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
Clássico-Rei do futsal: torcidas com fogos sobre um barril de pólvora
Quem perdeu a chance de apostar que o duelo entre Ceará e Fortaleza pelo Campeonato Cearense não chegaria ao fim, desperdiçou a chance de descolar uma grana fácil
Foto: Reprodução
Torcedores de Ceará e Fortaleza entraram em conflito durante um jogo de futsal no Ginásio Paulo Sarasate
Era sexta-feira, 12, meio de tarde, quando o assunto se voltou ao vindouro Clássico-Rei do futsal. João Pedro Oliveira, bem informado como todo bom repórter, fez a aposta mais fácil da vida dele. "Acho que esse jogo nem acaba". Foram seis minutos de partida até a violência vencer.
Na melhor das hipóteses, a ideia de os dois maiores times cearenses se enfrentarem no ginásio Paulo Sarasate com a presença de mil torcedores de cada lado era ingênua. Na pior, era leniente com o histórico da rivalidade.
O trabalho prévio foi feito. Tenho em mãos a Avaliação de Riscos em Estádios de Futebol (Aref) da partida. O documento, que me foi entregue por fonte, já que o poder público opta por tergiversar sobre os preparativos para o duelo, aponta claramente tratar-se de um evento de bandeira vermelha — isto é, de risco muito alto.
Cientes disso, pedimos esclarecimentos para a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS) e para a Polícia Militar do Ceará (PM-CE) antes e depois da briga generalizada. Perguntamos antes, mas não recebemos resposta. Questionei depois também. A primeira pergunta que fiz foi sobre o efetivo policial deslocado para garantir a segurança do Clássico-Rei. Afinal, meu repórter no local disse que havia três agentes na barricada entre as organizadas. A segunda era sobre o posicionamento dos órgãos nas reuniões prévias.
Horas depois, a PM-CE me respondeu sem dar um número do efetivo, mas listando composições policiais. Sobre o segundo ponto, listou temas discutidos. A avaliação de risco só consegui com uma fonte, horas depois.
Sobre o efetivo — tanto o planejado, quanto o efetivamente no local —, me senti desprestigiado até o momento em que, na segunda-feira, 15, descobri que até o promotor Edvando França, coordenador do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor (Nudetor), queria saber a mesma coisa. Se até o Ministério Público do Estado tinha dificuldade para encontrar tal número, talvez não seja incompetência jornalística minha não tê-lo.
Fato é que é necessário saber se o problema foi prévio — subestimar a estupidez dos torcedores-vândalos —, ou de déficit de pessoal capaz de executar o plano. Mas a nós, cabe cobrar do poder público.
Já fui editor de Cidades. Lá, o poder público criou uma estrutura de blindagem por meio de notas em que a existência de fontes — pessoas que podem responder às perguntas e incitar novos questionamentos — praticamente some. Ou seja, a transparência de informação fica comprometida. E como a imprensa vai poder ajudar a diagnosticar problemas se ela se alimenta de meias-verdades?
Como é inútil questionar os torcedores-vândalos, puxo pra mim a urgência de questionar qual a política pública de combate à violência no esporte — e fora dele também.
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