Bia Haddad sai ainda maior após decidir pausar a carreira
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
Bia Haddad sai ainda maior após decidir pausar a carreira
Esporte de elite é a história de campeões. Mas nem só quem sobe do alto do pódio é um vencedor na vida
Foto: Elsa / Getty Images via AFP
Beatriz Haddad Maia é uma gigante do esporte nacional
Beatriz Haddad Maia decidiu parar de jogar tênis profissionalmente até o fim do ano. Quando recebi a informação, minha vontade era dar um abraço nela.
O esporte profissional tem uma demanda constante por performance, por um auge físico que parece sempre estar perto, mas nunca de fato chegar. Se nas modalidades coletivas as responsabilidades são compartilhadas por cinco, 11, 30 atletas, nas individuais a obrigação recai toda sobre um mesmo cérebro.
E a verdade é que Bia claramente não estava bem. E, como torcedor, fico feliz de ela ter entendido que a prioridade é a saúde mental dela.
As cenas dos últimos três torneios que a maior tenista brasileira de simples em toda a era aberta eram assustadoras. Não tenho diploma para dar diagnóstico, mas muito me lembram ataques de ansiedade que tive anos atrás. E, para quem nunca viveu episódios como esses, garanto que é uma experiência assustadora. Desamparadora, talvez seja o termo mais correto. Daí meu impulso pelo abraço.
Tem hora que o clichê é real. No tênis, o chavão é sobre o quanto o jogo é mental. Bia, para bem ou para mal, sempre demonstrou isso. Quando bem, ela é capaz de vencer qualquer um — são 11 vitórias sobre tenistas top-10, incluindo uma sobre Iga Swiatek, quando a polonesa liderava o ranking. Às vezes, porém, ela parece ceder à própria ansiedade, como na última vitória em 2025, contra a 306 do mundo, a coreana Dayeon Back. Na partida, ela chegou a pedir atendimento, notadamente trêmula e com dificuldade de respirar.
A paulista canhota de 29 anos prometeu voltar mais forte. E confio que voltará. Merece apoio — sempre mereceu, mas por vezes recebeu cobrança, advinda da carência brasileira e do talento que demonstra. Mais que isso, merece elogios por ter tido a coragem de abrir mão do tênis, do calendário, do dinheiro, de parte de patrocínios, para estar bem consigo.
Esportistas são pintados como seres perfeitos, apolíneos. São o auge da perfomance, o molde do desempenho, a narrativa que vira canção. Bia se junta a alguns ícones que mostram que eles são humanos. Cito dois: Simone Biles, uma das maiores ginastas da história, e Ian Thorpe, um dos maiores nadadores da história.
Que a coragem deles ensine o mundo a criar canções que inspirem sonhos, não ansiedades.
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