Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
A final da World Series de beisebol foi épica; pena que eu dormi
Transmissão incrível, histórias impressionantes, roteiro com reviravolta no fim. O único problema do título do Los Angeles Dodgers foi o soninho que me deu
Foto: RONALD MARTINEZ / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP
Famoso por não falar inglês, Shohei Ohtani discursou na língua do país que chama campeonato doméstico de "mundial"
Tento seguir à risca a prerrogativa de respeitar a cultura alheia. Dia desses, quase fiquei ofendido por procuração quando um amigo desrespeitou o surströmming, arenque fermentado tradicional da Suécia e conhecido pelo odor nauseabundo. Pra mim, era como menosprezar uma buchada, uma fussura, uma panelada. Não é sobre gostar de uma comida em si, mas sobre abraçar o contexto socioeconômico em que uma tradição alimentar se imbui no paladar da população.
É com esta cabeça aberta que encarei a World Series da Major League Baseball (MLB), a liga norte-americana de beisebol. Há anos ensaio dar uma chance ao esporte coletivo nacional de países como Japão, Cuba, República Dominicana e Venezuela. Mas foi a ascensão do astro nipônico Shohei Ohtani que me convenceu a destorcer o nariz. É a sanha de ver a história sendo escrita.
Para quem não conhece o atleta japonês de 31 anos, ele é um dos melhores arremessadores da MLB, enquanto é ainda provavelmente o melhor rebatedor. E não, em geral os "pitchers" não são chamados para o bastão. A qualidade dele nas duas vias é tanta que as regras do jogo mudaram em prol de mais Ohtani em campo. Até 2022, quando um arremessador inicial era substituído, ele não podia voltar ao jogo. Agora, o jogador pode continuar na partida como rebatedor.
Herói nacional do Japão, Shohei assinou o maior contrato da história de todos os esportes em 2023. São US$ 700 milhões, divididos ao longo de 10 anos. Ou seja, o equivalente a R$ 3,8 bilhões. Um atleta que vai receber R$ 1 milhão por dia por toda a década. Dá uns R$ 700 por minuto.
Shohei não era o único fato a me atrair. Ele representa o Los Angeles Dodgers, que jogava contra o Toronto Blue Jays. E minha índole sempre me impeliu a preferir times canadenses aos dos vizinhos deles. Na transmissão da ESPN, aprendi muito com Renan do Couto, Weinny Eirado e o sempre brilhante Ubiratan Leal. O também japonês Yoshinobu Yamamoto, do time da cidade dos anjos, foi o MVP ao fazer algo inédito. Em vez de descansar após arremessar por seis entradas no jogo 6, ele voltou a campo para a partida decisiva.
Muitas emoções. A partida em si, foi emocionante. Na nona entrada — em tese, a última —, o Toronto liderava. Reserva até o jogo 6, Miguel Rojas rebateu um arremesso decisivo, estendendo a partida até a 11ª rodada, quando o Dodgers prevaleceu.
Não que eu tenha visto tudo isto. Era meia-noite do sábado passado. Nessa segunda-feira mesmo, eu fiquei até as 2 da manhã vendo meu Vancouver Canucks vencer o Nashville Predators em jogo pouco relevante de hóquei no gelo. Mas o beisebol me venceu. Apaguei. Só soube do resultado no domingo, quando acordei tendo de lavar uma pilha de louça que pretendia resolver após o fim da partida.
Beisebol claramente pode ser incrível. Mas parece ser um gosto adquirido por quem vive mergulhado nessa cultura. É como o surströmming. Ou o caranguejo na praia.
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