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Sai Díaz, entra Abel: Inter troca misoginia por homofobia
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO

André Bloc esportes

Sai Díaz, entra Abel: Inter troca misoginia por homofobia

Mudança de técnicos no Colorado expõe uma atualização dos preconceitos. Ai de mim, mas não cederei ao etarismo para criticar Ramon Díaz e Abel Braga
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Tem nem um mês. Então técnico do Internacional, o treinador argentino Ramón Díaz reclamava da arbitragem no empate contra o Bahia, quando apontou que "o futebol é para homens, não é para meninas". Um dia depois, ele pediu desculpas, enquanto o Colorado reforçou em nota um posicionamento em prol do futebol feminino.

A paleolítica fala foi usada como combustível de adversários. A torcida do Ceará, no confronto contra o Inter, reforçou que "lugar de mulher é onde ela quiser", e a qualidade técnica do Alvinegro certamente se imporia, não fosse a infantil expulsão de Vina no minutos iniciais do embate. Mas naquele dia no Castelão, o Colorado prevaleceu, a queda de Díaz foi adiada mesmo com o paupérrimo futebol do Colorado e o argentino só seria mandado embora depois de um empate em casa contra o Santos e uma sonora goleada para o Vasco da Gama.

Eis que surge, do mais obscuro passado, o salvador da pátria: Abel Braga. E com o olhar perscrutador de quem já levou o Inter ao título mundial diante do todo-poderoso Barcelona, o veterano identificou o culpado pela má fase do time: a camisa rosa usada nos treinos. Peço perdão pelo linguajar, mas eis o que disse o veterano treinador: "Eu não quero mais a porra do meu time treinando com camisa rosa, que parece time de viado".

No dia seguinte, novo pedido de desculpas de um treinador do Inter. Seja por ironia do destino ou num desastrado estratagema de limpeza da imagem, Abel saiu no BID da CBF no mesmo dia trajando uma camisa rósea. O que talvez indique que a fala foi voltada a acender um rastilho de pólvora direcionado a outro barril de petróleo. Não tenho a sabedoria dos 73 anos de vida do multicampeão, mas uma mudança de foco quiçá sirva de algo para um time que exibe um futebol ligeiramente melhor que o do lanterna Sport.

E se a tese for real, por que sempre é uma minoria o saco de pancadas de uma piada? O Inter corre o risco de ser rebaixado ainda hoje. E o treinador da equipe está preocupado com a moda do time. É ridículo — e risível — que um homem adulto perca tempo com tal preocupação. E ainda me faça perder meu tempo repudiando a imbecil infantilidade dele. E é preocupante que alguém em cargo de poder ainda não tenha aprendido a pensar antes de cometer um ato de preconceito publicamente.

Se Abel Braga buscava redirecionar a crise para uma questão menor, ele conseguiu ofender quem podia se sensibilizar com o momento do time.

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