Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
Ceará e Fortaleza na Série B: o consolo é a companhia
Quem deixa para rir por último às vezes fica com a gargalhada engasgada. O rebaixamento duplo de times cearenses deixou todo mundo sem argumento para frescar com a queda alheia
Foto: Samuel Setubal
Fortaleza e Ceará caíram juntos à Série B
"Trágico" não é bem a palavra. Ninguém morreu, afinal. "Doloroso" talvez dê a dimensão emocional particular, mas sem o senso coletivo de luto. "Melancólico" empresta um tom psicopatológico que fica no limiar da verdade. "Cruel".
Havia dez combinações possíveis de rebaixados. O destino impôs aquela que não deixaria nenhum fã de esportes cearense incólume. Ceará e Fortaleza caíram, com toda a justiça de quem não fez o bastante depois de nove meses de disputa. Eram cinco postulantes às duas vagas na divisão de baixo. Parecia improvável que os dois rivais se salvassem. Parecia impossível que ambos caíssem ao mesmo tempo.
No auge da rodada de domingo, cada piscadela alterava a composição da zona de rebaixamento. Até o intervalo, Vitória e Internacional prevaleciam (na fraqueza). Eis que o Colorado abriu o placar contra o Bragantino, o Botafogo vencia o Fortaleza e o Leão encarou o "purgatório". Depois, o Tricolor empatou; o Ceará perdia para o Palmeiras, e era a vez dele de se ver frente ao abismo. Restava ao torcedor exagerar nas piscadelas para ver se o quadro melhorava no próximo abrir de olhos.
A vitória do Vitória sobre o São Paulo calou o risco da reima. Nada de frescar com o amigo torcedor do rival. Cruel com o Ceará, que esteve fora da zona de rebaixamento em 37 das 38 rodadas, convalescendo justo na única que importa. Cruel com o Fortaleza, que construiu uma das maiores reações já vistas na elite do futebol brasileiro — mas que virou uma "melhora da morte na praia".
O sentimento alvinegro é mais pungente, porque o tricolor já vinha resignado há dois meses. Mas a realidade é igual — ou pelo menos equivalente. Ceará e Fortaleza são, de fato e de direito, times de Série B.
O alívio é que não há ninguém no topo olhando para baixo. Imperou a expectativa frustrada de rir melhor, que não repousa em Porangabuçu ou no Pici. Quiçá a gargalhada tenha ido parar na Barra do Ceará, junto à torcida do Ferroviário, que ganhou uma SAF nova para sonhar em ser competitivo.
A nós, resta saber que o Clássico-Rei segue realidade no Brasileirão. Talvez não no patamar que sonháramos. A dor do outro faz companhia, aproximando Ceará e Fortaleza de forma quase inédita. No próximo ano, na Série B, a rivalidade ganha nova vida. E alguém há de rir por último.
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