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O ontem, o hoje e o amanhã
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO

André Bloc esportes

O ontem, o hoje e o amanhã

Coluna reflete sobre homenagem de goleira durante título para fazer convite para o Seminário Estadual de Enfrentamento à LGBTIfobia no futebol
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Há pouco mais de duas semanas, o Fortaleza se sagrou campeão cearense de futebol feminino. Ainda no gramado do estádio Presidente Vargas, o repórter Horácio Neto entrevistou a heroína da conquista, a goleira Lorrana. Passava por uma cena banal de comemoração, mas virou para mim uma memória de uma caminhada.

Enquanto ouvia sobre os familiares que acompanhavam às transmissões do Esportes O POVO, Lorrana fez questão de dedicar o título à namorada. E meio que por acaso me vi pensando nos meus 16 anos de carreira e nas esquinas que o mundo dobrou.

Eu me lembro do meu primeiro artigo publicado no O POVO. Falava sobre gostar de futebol sendo um homem gay. Recordo que houve elogios — em particular de um ex-chefe meu, que apesar de ser homossexual assumido em praticamente todos os círculos da vida, nunca tinha escrito abertamente sobre isto em páginas impressas em papel-jornal. Houve até uma crítica de uma colega que dizia que o que eu escrevera era óbvio.

Era 2011, talvez 2012. O casamento igualitário só seria aprovado no Brasil em 2013. A homofobia viria a ser criminalizada por aqui em 2019. Émerson Maranhão escrevia a seminal Cena G, mas era das únicas vozes no jornalismo cearense a falar abertamente sobre cultura LGBTQIA — uma sigla que então tinha menos letras.

Ver uma atleta jovem falar do amor a uma outra mulher despreocupadamente me encheu de orgulho. Mesmo sabendo que a diversidade sexual é muito mais presente no futebol feminino. Foi bonito ver a declaração de Lorrana ao vivo após a primeira decisão transmitida ao vivo no YouTube do (quase) centenário Grupo de Comunicação O POVO, que anos antes me abriu espaço para sair do armário publicamente.

A comemoração não é desconectada da luta. A própria concepção desta coluna é sobre ativismo. Neste contexto, reforço um convite. Nesta quinta-feira, 18, das 13h às 17 horas, será realizado, no auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultural, o Seminário Estadual de Enfrentamento à LGBTIfobia no futebol. É parte do 2º Festival da Diversidade, realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Diversidade.

É um momento importante, de união, decisivo para o Grupo de Trabalho de Enfrentamento à LGBTfobia nos Estádios, e terá a presença de Onã Rudá, presidente da LGBT Tricolor Bahia e do coletivo Canarinhos LGBTQIAP , e do promotor Edvando França, coordenador do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor (Nudtor).

Ontem, nossa luta foi para existir. Hoje, a gente cobra a possibilidade de ocupar todos os espaços. É um momento importante, ainda mais para quem sabe que o retrocesso sobre direitos adquiridos está sempre à espreita.

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