Sociólogo, com formação em Filosofia. Professor aposentado do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC). Conjuga as atividades acadêmicas de professor, pesquisador, sempre engajado em atividades públicas, à participação como conselheiro em diversas instituições nacionais e internacionais
O STF está prestes a dar um primeiro passo no longo caminho da descriminalização, caminho percorrido por diversos países, entre os quais Uruguai e Canadá
Por razões sociológicas, sou favorável não somente à descriminalização, mas também à liberação da maconha (cannabis) tanto para fins terapêuticos quanto para fins recreativos. Na verdade, tomei conhecimento do uso de drogas com o advento dos hippies e do Festival de Woodstock, no final dos anos 50 do século passado, festival que teve alta repercussão no comportamento de jovens. Como consequência, nos anos setenta, desencadeou-se uma verdadeira guerra às drogas custeada por dinheiro público com o objetivo de banir para sempre o consumo de todas as drogas, com exceção do cigarro e do álcool. Guerra perdida, já que as drogas se multiplicaram e o número de seus usuários de todas as classes sociais não fez senão aumentar. No Brasil, o combate ao consumo de drogas vem levando ao encarceramento de adolescentes, jovens e mulheres pobres flagrados com pequena quantidade de material psicoativo, confundidos com traficantes, enquanto os endinheirados em nada são incomodados.
O STF está prestes a dar um primeiro passo no longo caminho da descriminalização, caminho percorrido por diversos países, entre os quais Uruguai e Canadá. O STF, com efeito, está para retomar o julgamento da inconstitucionalidade da criminalização do porte da maconha para consumo próprio. No projeto a ser votado pressupõem-se como usuários e não traficantes pessoas flagradas com 25 a 60 gramas de maconha ou que tenham até seis plantas fêmeas para cultivo. No momento, a votação está com 5 votos pela liberação e 1 voto contrário. Não se trata, portanto, de uma liberação geral de todas as drogas, mas somente da maconha. Mesmo assim, a oposição a essa liberação é agressiva, com certeza por desconhecimento dos benefícios dessa droga ou sob o anátema das religiões. A minha geração cresceu sub o efeito da demonização da cannabis, considerando-a tão nociva quanto qualquer outra droga.
Mas as avalições científicas tomaram uma outra direção, como explica um recente e excelente livro sobre o assunto: "As Flores do Bem", do neurocientista e biólogo Sidarta Ribeiro. O subtítulo expressa bem o rumo do livro: "A ciência e a história da libertação da maconha". O livro apresenta e discute os benefícios dessa planta do bem, que teria sido descoberta há doze mil anos e utilizada para funções medicinais ou religiosas, como forma de induzir o transe espiritual em vários países como China, Índia, Coreia e Japão e daí se difundido para todos os continentes e países. O autor insiste no uso da cannabis para tratar dores, epilepsia, tétano, raiva, ansiedade, reumatismo, infecções, verminoses, diarreia, cólica, inapetência e asma. Diz o autor: "O fato inquestionável é que a maconha é uma planta extremamente útil, herdada de quem veio muitíssimo antes de nós". No Brasil, o problema não é a legalização, pois seu uso terapêutico está efetivamente autorizado. O problema são seu custo, seu acesso e seu estigma social.
Este artigo não visa outro objetivo senão encorajar a leitura do livro de Sidarta Ribeiro e contribuir para o debate do tema e eliminação do estigma social que pesa sobre os usuários da maconha. n
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