
Eleita uma das dez melhores executivas do Brasil, Anette de Castro é vice-presidente da Mallory. Líder e cofundadora do Grupo Mulheres do Brasil
Eleita uma das dez melhores executivas do Brasil, Anette de Castro é vice-presidente da Mallory. Líder e cofundadora do Grupo Mulheres do Brasil
A recente e súbita imposição tarifária pelos EUA atingiu em cheio a economia exportadora do Ceará. Produtores de coco, pescados, frutas e plantas ornamentais, que operam sob programações meticulosas e de longo prazo, se veem agora assoberbados por uma mudança de regras sem aviso prévio. Esta medida vai além de um mero revés comercial; é um golpe contra a previsibilidade, princípio basilar de qualquer acordo internacional.
Este episódio, no entanto, reflete uma preocupação global maior: a crescente carência de lideranças que inspirem confiança e promovam um mundo mais justo e pacífico. As relações internacionais, outrora estruturadas em tratados negociados e multilaterais, assistem hoje a uma onda de imprevisibilidade e à impositiva intervenção na soberania de outros países, quebrando a confiança essencial para o comércio global.
Quem verdadeiramente sofre com a abrupta alteração do jogo não são os grandes conglomerados, mas os pequenos e médios produtores. São eles que, sem caixa para emergências e com estrutura enxuta, não conseguem realocar rapidamente produtos perecíveis ou renegociar contratos da noite para o dia. A falta de transparência e o timing repentino criam uma assimetria insustentável, penalizando quem menos tem recursos para se adaptar.
Neste momento crítico, o rápido apoio financeiro institucional - através de linhas de crédito emergenciais e garantias - é mais do que bem-vindo; é absolutamente necessário. Sua função é salvaguardar empresas produtivas e geradoras de emprego, assegurando que não haja prejuízos maiores para aqueles que nada têm a ver com os imbróglios políticos, hoje tão frequentes e inesperados. É uma ação vital para manter de pé o tecido econômico local.
No entanto, é na adversidade que se forja a resiliência. A curto prazo, o sofrimento é injusto e desnecessário. A médio e longo prazos, porém, esta crise pode ser o empurrão involuntário para uma maturidade estratégica que nosso setor produtivo necessita.
A lição é dura, mas clara: a hiper dependência de um único mercado ou cliente é um risco existencial. A reversão ou não desta decisão específica torna-se quase secundária perante a oportunidade de evolução. O futuro exige que as empresas se estruturem com menos dependência, buscando ativamente uma carteira diversificada e capilar de parceiros internacionais.
Isso significa profissionalizar a gestão de riscos, incorporando a análise socioeconômico-política como um pilar central do planejamento. Significa investir em inteligência de mercado para identificar oportunidades além do horizonte tradicional. Quem sobreviver a este teste sairá não apenas mais forte, mas mais ágil, mais diversificado e infinitamente mais preparado para o dinâmico e volátil cenário do comércio global. A crise é um convite à reinvenção. Cabe aos nossos produtores transformar esse desafio imediato em vantagem competitiva permanente.
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