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Annette de Castro: William resgata a realeza de uma vergonha que tambem e nossa
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Eleita uma das dez melhores executivas do Brasil, Anette de Castro é vice-presidente da Mallory. Líder e cofundadora do Grupo Mulheres do Brasil

Annette de Castro: William resgata a realeza de uma vergonha que tambem e nossa

William encantou o Brasil, mostrando-se um jovem aberto, preocupado e sério na sua função de Príncipe herdeiro, lembrando a mãe, Diana, em sua visita de 1991, com quem tive o prazer de estar na ocasião
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O príncipe William, príncipe de Gales, posa para uma foto ao lado da estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, Brasil, em 5 de novembro de 2025. O príncipe William visita o Brasil para apresentar a cerimônia de entrega do Prêmio Earthshot e para participar da COP30, a cúpula climática da ONU, em nome do rei Charles da Grã-Bretanha. (Foto de Eduardo Anizelli / POOL / AFP) (Foto: Eduardo Anizelli / POOL / AFP)
Foto: Eduardo Anizelli / POOL / AFP O príncipe William, príncipe de Gales, posa para uma foto ao lado da estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, Brasil, em 5 de novembro de 2025. O príncipe William visita o Brasil para apresentar a cerimônia de entrega do Prêmio Earthshot e para participar da COP30, a cúpula climática da ONU, em nome do rei Charles da Grã-Bretanha. (Foto de Eduardo Anizelli / POOL / AFP)

A visita do Príncipe William ao Brasil para as cúpulas do Earthshot Prize e da COP30 é mais do que uma simples missão ambiental; é, nas entrelinhas, uma sofisticada operação de resgate. A imagem do herdeiro da coroa britânica promovendo sustentabilidade e esperança em um palco global serve como um contraponto estratégico para tentar apagar a vergonha recente da cassação oficial dos títulos militares e reais de seu tio, o Príncipe Andrew, por seus vínculos com o criminoso sexual Jeffrey Epstein.

A decisão do Rei Charles III, apoiada publicamente e com veemência por William, foi um remédio amargo, mas necessário, para uma ferida que sangrava não apenas no palácio, mas também na opinião pública britânica.

Ao vincular o anúncio da turnê latino-americana a este contexto de crise institucional, fica clara a urgência da Coroa em se reerguer e se reconectar com o mundo sob uma nova égide. William, portanto, não viaja apenas para consertar o planeta; ele desembarca no Brasil com a missão paralela de ajudar a reparar a idoneidade moral e a credibilidade da família real. A sua imagem de homem de família, moderno e comprometido com causas nobres é o ativo mais valioso nesse momento de reconstrução.

Durante a semana passada, William encantou o Brasil, mostrando-se um jovem aberto, preocupado e sério na sua função de Príncipe herdeiro, lembrando a sua mãe, Diana, em sua visita de 1991. Tive o prazer de estar com ela na ocasião, quando também cativou o público pela elegância, simplicidade e meiguice. De forma diferente, aquela época era polémica para a família real britânica, à véspera da sua separação do atual Rei Charles.

E é precisamente essa necessidade de reparação moral que ecoa, de forma dramática e urgente, no solo brasileiro. A presença do príncipe, com seu imenso poder de atrair holofotes globais, deve servir para iluminar um problema que o Brasil insiste em ignorar e subestimar: a chaga da exploração sexual de crianças e adolescentes.

As estatísticas são aterradoras e colocam o país na vergonhosa 5ª posição global neste crime hediondo, uma epidemia silenciosa que destrói infâncias, traumatiza gerações e mancha profundamente nossa imagem internacional. Enquanto William busca, através do Earthshot, renovar o legado de sua família e inspirar soluções para a Terra, o Brasil é desafiado a enfrentar com coragem, firmeza e recursos uma realidade que nos coloca entre os piores do mundo em abuso e exploração sexual infantil.

O Earthshot premia inovações para salvar o planeta; o país, por sua vez, precisa urgentemente de um "Earthshot" moral, um pacto pela vida, para salvar as suas próprias crianças. A visita real é a ocasião perfeita e incômoda para essa reflexão dura e necessária. O mundo observa William no Brasil; que o Brasil use esse mesmo holofote para encarar seu próprio abismo.

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