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Mães desconfinadas
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Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.

Mães desconfinadas

Em Portugal, ao fim do confinamento se juntaram o Dia do Trabalho e o Dia das Mães, alegrias que levaram os portugueses para fora de casa. Porém, a alegria chega cercada de preocupação
Tipo Crônica
As pessoas assistem a um concerto de música experimental em Braga, no norte de Portugal, a 30 de abril de 2021, quando o país atingiu a fase final de flexibilização das restrições nacionais para impedir a propagação do COVID-19. (Foto: CARLOS COSTA / AFP) (Foto: CARLOS COSTA / AFP)
Foto: CARLOS COSTA / AFP As pessoas assistem a um concerto de música experimental em Braga, no norte de Portugal, a 30 de abril de 2021, quando o país atingiu a fase final de flexibilização das restrições nacionais para impedir a propagação do COVID-19. (Foto: CARLOS COSTA / AFP)

Foram alegrias duplicadas. Portugal ajustou a nova fase de desconfinamento com o dia das mães. E isso foi como agitar um formigueiro. É que, em terras lusitanas, a homenagem às mães é no primeiro domingo de maio, não no segundo, como no Brasil. Então, depois de muito tempo, o sábado, dia do trabalho, inaugurou a abertura das fronteiras para viagens, das esplanadas e restaurantes para almoços e jantares. Mas, é preciso dizer, a abertura não foi para todos. Há cercas sanitárias em algumas freguesias, a situação ainda preocupa, a vacinação avança a passos lentos, mas o verão bate à porta, sopra um (tímido) otimismo pelo ar.

Como o coração palpita e o sol chama, uma armada de filhos correu para comprar presentes de última hora e ingredientes para refeições em grande estilo, em casa. Mas, também, marcar hora em restaurantes. Assim, para além da felicidade dos centros comerciais, foi o setor de restauração, mal das pernas com o confinamento prolongado, que subiu no salto alto, num organizar e desinfetar de mesas - nunca se viu tanto álcool-gel por aí Por todo lado, mas, principalmente, à beira-mar e nas praias perto de Lisboa, mesas livres eram coisa rara. O serviço redobrou. Triplicou. Os clientes das 13 horas, os das 14 horas, os das 15 horas. Quem perdeu a vez, como eu, ficou a ver placas de “reservado” e felizes comensais, em roupas de domingo.

Certo, não tenho motivações filiais, minha mãe já não está nesse mundo há anos, mas, mesmo assim, fiz o mesmo movimento das centenas que foram à praia, neste domingo maternal. Um tanto para limpar a vista no dia ensolarado, o mar sempre faz bem, um tanto pela vitamina D e os benefícios do que chamamos aqui, um passeio higiênico. Mas, o prazer de caminhar na orla exige agora também exercício mental, nestes tempos. É o aprender a não errar o passo na dança intuitiva de desviarmo-nos uns dos outros, principalmente se o caminhante ai na frente não usa, ou não posiciona bem, a máscara. O medo caminha com a gente, por aí. Às vezes, muda de lugar.

Da parte de uma médica portuguesa, fiquei sabendo de um episódio de deixar qualquer um de cabelo em pé. A médica foi ao supermercado e encontrou nas compras, entre legumes e frutas, adivinha quem? Ora, a paciente dela, toda serelepe, que, horas antes, tinha sido diagnosticada com Covid. Assustada, a médica foi à gerência da loja, explicou o sucedido e o gerente pediu, pelo sistema de som, que a pessoa diagnosticada com Covid comparecesse ao balcão de informação: não uma, mas oito pessoas vieram ter com ele. Por isso, sigo firme com as estratégias de distância, seja na praia, seja no supermercado. O desconfinamento é um flerte com a liberdade, mas ainda estamos longe do dia dos abraços e encontrões nos calçadões da praia.

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