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A imagem sintetizada do 11 de setembro.
Foto de Ariadne Araújo
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Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.

A imagem sintetizada do 11 de setembro.

Onde você estava e o que fazia da vida naquela terça-feira, 11 de setembro de 2001? Lembro que tinha começado meu dia na redação do O POVO, em Fortaleza, no Ceará. Primeiro, não foi o corre-corre normal para cobrir, informar e repercutir. Foi, antes, um silêncio de incompreensão. Mas já a ideia de que as imagens entravam para a História. E uma pulga atrás da orelha que dizia, aberta a caixa de Pandora
Tipo Crônica
Arte da cartunista belga Cécile Bertrand, a metáfora do 11 de setembro (Foto: Cécile Bertrand)
Foto: Cécile Bertrand Arte da cartunista belga Cécile Bertrand, a metáfora do 11 de setembro

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Dos amigos que interroguei, é clara a lembrança do momento exato em que puseram os olhos sobre as imagens do acontecimento que marcou para sempre o início do século XXI. Mesmo os mais jovens, hoje na casa dos trinta – na época ainda crianças. Eu estava na escola. Eu estava em casa. Eu estava no trabalho. Eu estava na rua. Um amigo me avisou. Ouvi em um programa de rádio.

A notícia correu ligeira, de boca em boca. Porque, na época, não tínhamos ainda as tais redes sociais de agora, que hoje não param de nos informar. Então, pelo meio da manhã, as televisões ligaram-se antes do tempo. E nós, no meio de uma sala qualquer, em modo telespectador. Olhando sem conseguir parar de olhar aquelas imagens em suspense, tal e qual o nosso respirar. Diante das telas, embarcamos com elas, rumo ao desconhecido.

Ao analisar os atentados de World Trade Center, Paddy Scannell, professor e pesquisador em estudos da comunicação, disse que “quando acontece uma catástrofe, raramente tem o seu significado tatuado na testa”. Foi assim naquele dia. Para além dos milhares de mortos e feridos no atentado, foram ainda duas guerras periféricas, no Afeganistão e no Iraque.

Vinte anos depois, fechou-se a caixa de Pandora, aberta no 11 de setembro? Estranho, aliás, que a data tenha entrado na memória coletiva quase como um conceito. Ela diz tudo. Resume tudo. Embute em si as múltiplas emoções, informações, imagens e sentidos do que aconteceu. É ouvir o dia e o mês e, bufo, voltamos no tempo. De novo o plano fixo do World Trade Center – o avião espetado em uma das torres -, como se a transmissão daquele dia ainda não tivesse acabado.

 

"Estranho, aliás, que a data tenha entrado na memória coletiva quase como um conceito. Ela diz tudo. Resume tudo. Embute em si as múltiplas emoções, informações, imagens e sentidos do que aconteceu. É ouvir o dia e o mês e, bufo, voltamos no tempo"



Do 11 de setembro, trago na memória esta imagem-fotografia. Recortada, fixa, congelada. Nela, só o avião, uma das torres e a coluna de fumaça. Elementos que, para mim, resumem ou concentram (como no caso da data) toda a complexidade do acontecimento. Talvez por isso cultivei o gosto de ver cartoons, a arte de simplificar e sintetizar um acontecimento, ou situação da atualidade, a alguns traços determinantes.

Neste triste aniversário dos atentados do World Trade Center, inclusive, são deles algumas tiradas geniais. É que, de quando em vez, passeio pela galeria online dos Cartooning for Peace (em português, “desenhando pela paz”). Rede internacional com mais de 200 cartunistas que, através do humor e seus desenhos, lutam pelo respeito aos artistas e às liberdades. Com eles, uma outra forma de compreender o que se passou.

É da pintora e cartunista belga Cécile Bertrand, o meu preferido. Na paisagem de prédios de Manhattan, finas linhas em preto-e-branco, vê-se a imponente silhueta do Empire State Building, de novo o arranha-céu mais alto de Nova York. Mas, no reflexo das águas do rio Hudson, o elemento-surpresa. Pois, na imagem-espelho, surgem, soberanas, as duas torres gêmeas. Metáfora de suas presenças indestrutíveis na memória afetiva das pessoas da cidade.

Um gigante desolado, a leitura do cartunista Peter Kuper para o 11 de setembro(Foto: Peter Kuper)
Foto: Peter Kuper Um gigante desolado, a leitura do cartunista Peter Kuper para o 11 de setembro

Já pelas mãos do americano Kuper, o Empire State Building é um gigante desolado, debruçado sobre os escombros de suas companheiras de cidade. E, para terminar em beleza, o canadense Côté imagina o Tio Sam, a mais famosa representação dos Estados Unidos, dedo apontado, dizendo “never forget”. No topo da cartola dele, duas torres em chamas. E eu penso que delas ainda chegam cinzas, mesmo vinte anos depois.

Foto do Ariadne Araújo

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