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Resultado histórico em Portugal. Dos 250 mil brasileiros que vivem aqui, 80 mil foram as urnas e um alto percentual deu seus votos a Lula da Silva. A vitória mais expressiva foi no Porto, onde Lula teve 9.450 (64,8%). Uma primeira vez, aliás, se levamos em conta eleições passadas, como em 2018. E como o tempo ajudou - depois de dias de chuvas, foi domingo de sol -, os eleitores apressaram-se para chegar às urnas, logo nas primeiras horas da manhã.

Vontade de votar, mas também receio das filas quilométricas, como aconteceu no primeiro turno. Por isso, foi um dia longo. E de fôlego para manter acesa a mobilização e a presença nas ruas e, ao mesmo tempo, acompanhar pelo telefone as eleições no Brasil. Mas, resultados nas mãos, coloriram-se as margens do Tejo e do Douro, com bandeiras fazendo vezes de capa, numa cantante mancha encarnada. 

Os portugueses, não dados a manifestações e efusões em eleições, já esperavam que o segundo turno da presidencial brasileira em Portugal fosse ainda mais exuberante. Em Lisboa, Porto e Faro, onde foram abertas sessões de votos, os apoiantes dos dois candidatos se afrontaram durante todo o dia com cânticos e palavras de ordem. E claro, arengas.

Por exemplo, em Faro, onde foram em massa os residentes do Algarve - a bela faixa do litoral Sul com suas praias paradisíacas -, o que começou com um bate-boca entre dois grupos, acabou envolvendo uma centena de pessoas que aguardavam na fila. A polícia foi chamada para acabar esses “constrangimentos”, como se diz por aqui, e separou os mais afoitos. E uma (relativa) paz se instalou. É que, na euforia desse dia decisivo para o Brasil, não teve muito lugar para confrontos, mas para a alegria. Para a festa. 

Para comemorar os resultados em Portugal, mas também para acompanhar até o fim a contagem de votos no Brasil, os brasileiros encheram barzinhos e as escadarias das ruas das cidades. E, quando a noite já ia tarde, também lugares emblemáticos e culturais, como a Fábrica do Braço de Prata e a Casa do Brasil, em Lisboa.

Dois importantes quartéis-generais dos votantes de Lula. “A maior concentração de pessoas coerentes em Lisboa”, diz um eleitor. Olhos pregados nas grandes telas de televisões, acompanharam e comemoraram cada voto. Desse jeito, saltando uma noite de sono, o domingo emendou-se na segunda-feira. Vai ser difícil começar a semana de trabalho. Lembrando que, com a mudança de horário de inverno, estamos em Portugal com três horas na frente, em relação ao fuso do Brasil. 

Mas os brasileiros residentes em Portugal não querem saber se o sono atrasa. O momento importante para o Brasil exige e vale a pena. A presença massiva nas urnas eletrônicas confirma isso - desejo de participar do momento eleitoral que levou quase a dobrar o número de eleitores inscritos este ano.

De Braga, por exemplo, os brasileiros que lá vivem fizeram uma força-tarefa e lotaram os vagões de um trem, para virem juntos votar no Porto – o vídeo desse “comboio da democracia” viralizou nas redes sociais. De lugares distantes, os brasileiros fretaram ônibus para alcançar os locais de votos. Não é porque o voto é obrigatório no Brasil, mas porque cada voto importa. Antenados com o Brasil, mesmo no exterior.

Vitória em mais 15 países europeus

A vitória de Lula em Portugal, aliás, repetiu-se em mais 15 países europeus. Já os portugueses ficaram de queixo caído com a eleição brasileira – com a ação dos movimentos sociais e enorme participação dos eleitores, que a televisão portuguesa mostrou durante a campanha e na cobertura do domingo. “Arruadas gigantes” como não se vê e nem nunca se viu em Portugal, dizem, impressionados, na imprensa.

E, para os portugueses que ainda hoje se perguntam o que diabos poderiam significar termos como “imbroxável”, “picolé de chuchu” ou “bolsolão”, o jornal Diário de Notícias lançou nesse domingo um léxico explicativo para se compreender melhor as presidenciais no Brasil. Agora, depois dessa eleição que nos torceu os nervos, brasileiros e portugueses ficam com uma pergunta na cabeça: como fica o Brasil a partir de hoje, com a polarização que dividiu o país? Sem resposta, sigamos vivendo um dia a cada vez.