O segredo de felicidade do país mais feliz do mundo
Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.
O segredo de felicidade do país mais feliz do mundo
Segundo os finlandeses, eles são felizes. Aliás, muito felizes. Felicíssimos. Por seis anos consecutivos, no primeiro lugar no ranking dos mais felizes do Planeta, segundo sondagem nos últimos três anos pela Gallup World, a pedido da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. E, pelo que consta, não vão largar o pódio
Ser feliz é tudo o que se quer, cantavam no passado Kleiton e Kledir. Hoje e sempre, repetem a mesma coisa homens e mulheres de todos os países do mundo. Mas, os finlandeses, ah, estes sortudos, já chegaram lá. Considerados pelo sexto ano consecutivo o povo mais feliz do mundo, segundo uma pesquisa feita pela Gallup World. O instituto andou por centenas de países fazendo a mesma pergunta – satisfeitos com os rendimentos, com o apoio social, com a liberdade? Com a percepção de corrupção, com a esperança de vida e saúde? Sentem-se generosos?
O sim sorridente para todas essas respostas deu o pódio à Finlândia e o segundo e o terceiro lugares para a Dinamarca e a Islândia, países de cidadãos igualmente bem tratados e satisfeitos com a segurança e o conforto na vida. Ficamos sabendo que o Brasil ficou no 49º lugar, a Argentina no 52º lugar, Portugal mais abaixo, no 56º lugar, a Ucrânia mais abaixo ainda (porém não na rabada), na 92ª posição. E por último, e lamentavelmente, foi no Afeganistão, no último lugar (o 137º), onde os pesquisadores receberam muitos nãos, certamente dados por homens – a pensar o que diriam as afegãs, que não têm direito nem de sim nem de não, imagina da efêmera felicidade de serem ouvidas.
Agora que os finlandeses constatam que sabem ser felizes como ninguém, decidiram partilhar o segredo – lembrando que uma das questões do Gallup World é a generosidade. Pois bem, lançaram um masterclass, mas só para os que já se sentem secretamente “felizes finlandeses”. Se for o seu caso, você é um quase-feliz candidato a aluno. Os mais convincentes vão grátis para a Finlândia aprender com eles, por exemplo, a amar a natureza, a adotar um novo estilo de vida, uma outra maneira de se alimentar e sobre sustentabilidade. De quebra, ver o espetáculo da aurora boreal e as belezas das florestas locais. Ou seja, se tornarão felizes embaixadores e multiplicadores da imagem da Finlândia feliz.
"De uma fala de 1979, do filósofo Vladimir Jankélévitch, ouvi que a condição para ser feliz é um certo retorno à inocência. Quer dizer, ser feliz sem dar-se conta de que se é feliz. Dos que alardeiam uma felicidade estável e contínua, desconfie, dizia o filósofo"
Felizes, mas não bestas. Como se pode ver. Pois, sacaram rápido que a felicidade também pode ser um marcador interessante e lucrativo no mercado de turismo internacional. Já para o Afeganistão, para o Líbano, para o Congo, para a Zâmbia, todos no triste final da lista, a realidade é outra. E certamente não serão selecionados para as aulas na Finlândia. Porque estar no último posto do ranking significa ser o oposto da Finlândia, ou seja, ser o país mais infeliz do mundo. E com isso não se ganha nada, nem vaga no curso. Na terra onde impera o Taliban, é só o constato resultante de uma crise humanitária, que já levou 28 milhões de afegãs e afegãos à miséria.
Embora terrível, o constato da infelicidade de um país mostra já a lucidez e a compreensão da população local de que as coisas não vão bem. Estão longe de estar. Mas, se no coletivo tudo vai mal, será que no individual as pessoas conseguem estes efêmeros e fugidios momentos de felicidade? De uma fala de 1979, do filósofo Vladimir Jankélévitch, ouvi que a condição para ser feliz é um certo retorno à inocência. Quer dizer, ser feliz sem dar-se conta de que se é feliz. Dos que alardeiam uma felicidade estável e contínua, desconfie, dizia o filósofo. A felicidade é precária e nem sempre o dinheiro é garantia. Há quem tenha tudo e sinta um “grande deserto em si”.
Não sou especialista no assunto. Penso no sorriso - inocente e precário - de uma criança qualquer no Afeganistão, no Congo, na Zâmbia, no Brasil. Nas horas de conversas entre mulheres, ocupadas no trabalho duro da agricultura, da casa, dos filhos. Não se anula um sofrimento de um país ou de uma pessoa, mas alguns bons momentos podem diminuir, aliviar ou suspender momentaneamente a infelicidade – coletiva ou individual. Poderíamos já ousar dizer que “somos felizes”. Mas, melhor é nem dizer, só sentir essa brisa. Flutuarmos na presença dos momentos felizes das pequenas coisas, dos pequenos prazeres. Felizes, mas sempre lúcidos sobre o mundo, para não nos tornarmos desertos.
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