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Jovens peregrinos reviram Portugal pelo avesso
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Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.

Jovens peregrinos reviram Portugal pelo avesso

Uma semana para não se pensar em ir à Lisboa e Porto, principalmente. Mas não só. Pois, todo o Portugal está de fôlego preso esta semana, com a Jornada Mundial da Juventude. Para o evento, que vai reunir mais de um milhão e meio de pessoas de 180 países, até o Papa vem. E antes do evento, teve já o pré evento
Tipo Crônica
Papa Francisco (Foto: AFP/JOAO SENA GOULAO)
Foto: AFP/JOAO SENA GOULAO Papa Francisco

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Jovens peregrinos (e menos jovens também) de todo o mundo já desembarcaram em Portugal, para a Jornada Mundial da Juventude. Do Norte a Sul, espalharam-se, aos milhares. E eu com pena de quem mora, por exemplo, em Lisboa. Transtornos, transtornos, transtornos. Com a enchente de um milhão e meio de pessoas, a cidade mais que duplica a população. E a confusão começa no aeroporto.

Católicos somam-se às centenas de emigrantes portugueses, que voltam para as férias. Tudo isso e um pouco mais resultará em trânsito reduzido, ruas condicionadas, lojas fechadas, carros deslocados, metrôs e ônibus lotados. A julgar pela quantidade de bandeiras, vão fazer parte desse caos urbano muitos brasileiros.

A presença do Papa Francisco, quem vem de propósito para o evento, aumenta o estado de nervos. Porque há muito em jogo. Além da fortuna gasta nas estruturas, o orgulho nacional foi desafiado a sediar um evento assim tão grande, pela primeira vez na história do país.

Diz-se aqui que é o maior do século – na perspectiva portuguesa. Com suas mochilas às costas e abanando bandeiras nacionais, os peregrinos chegaram com sede e fome de missas. Já no sábado, numa espécie de pré-jornada, as celebrações religiosas multiplicaram-se pelas cidades. De uma ponta a outra, orações e músicas de adoração.

Belém, por exemplo, transformou-se no Parque do Perdão. Com a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos ao fundo, foram montados 150 confessionários - diferentes línguas para receber milhares de pecados. Já o Parque Eduardo VII, no miolo de Lisboa, ganhou o nome de Colina do Encontro. Para as missas e festas, chegaram também jovens católicos LGBTQI+.

O objetivo é participar ativamente da Jornada Mundial da Juventude e conseguir avançar na luta pela adversidade. Uma luta que se faz, segundo eles, no diálogo e na celebração. Em Lisboa, é o Centro Arco-íris que apoia e acolhe a chegada destas centenas de peregrinos. Fiquei surpresa e feliz de vê-los, com suas camisetas, trazendo slogans que defendem o direito de serem, ao mesmo tempo, católicos e LGBTQI+, sem que isso precise ser levado ao confessionário.

Será em Fátima, como sempre, o epicentro. Para ver e estar com o Papa, que não perde a viagem para ir ao santuário, vão os que podem. Nos passos dos peregrinos, 11 mil jornalistas internacionais. E, para aproveitar a oportunidade destes cliques fotográficos e exposição mediática, protestos: dos professores, do pessoal da área da saúde, dos policiais, dos que não podem mais pagar as prestações da casa própria com o aumento dos juros, dos que denunciam abusos na Igreja. E, por fim, e não podia faltar, a malta que fez as contas dos custos da Jornada para os cofres públicos e não ficou nada contente.

Se Portugal está pronto a 100% para receber e gerenciar esta multidão? Claro que não. Vai contar com a sorte e a capacidade de solução dos imprevistos. Mas, o maior desafio serão mesmo as temperaturas de verão, com previsões de uma semana bem quente. E, se não bastassem os termômetros a subir, os principais lugares de celebração são descampados, sem toldos nem árvores. Pelo menos para o Papa haverá sombras.

Em Fátima, aliás, as temperaturas e a sensação térmica podem ser ainda piores - milhares colados uns aos outros, no pátio do santuário. Preveem-se já centenas de desmaios e atendimentos de urgência. Mas, também uma semana de alegrias joviais, num país envelhecido e que ama o fado.

Foto do Ariadne Araújo

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