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O castelo de Ródão, do rei Wamba, em Portugal
Foto de Ariadne Araújo
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Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.

O castelo de Ródão, do rei Wamba, em Portugal

Importante cruzamento de rotas, desde o século XII, o castelo de Ródão abre para um vale de montanhas, cortado ao meio pelo Tejo. Cenário à altura de amores trágicos. Como o da rainha, que vivia do lado de cá do rio, e o do rei mouro, que vivia do lado de lá do rio
Tipo Crônica
Castelo de Ródão , em Portugal (Foto: Robert Frans / Especial para O POVO)
Foto: Robert Frans / Especial para O POVO Castelo de Ródão , em Portugal

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Entre a Serra da Estrela e o Alentejo, em Portugal, o alto de um monte chama os turistas para conhecerem a história triste de um amor contrariado. Wamba, o rei visigodo, escolheu o lugar mais íngreme e mais bonito que havia para fundar o seu castelo de Ródão. Vivia lá contente, com a sua rainha e a sua corte. Diante deles, a paisagem montanhosa, cortada, no vale, pelo Tejo. Acontece que, do outro lado do rio, no alto de um monte tão alto quando o de Wamba, reinava um rei mouro.

Nas ausências de Wamba, a rainha solitária e o rei mouro apaixonaram-se. Namoravam a distância, separados pelo vale. Para raptar a amada, o mouro lançou o arriscado projeto de cavar um túnel por baixo do Tejo. Mas estas coisas são difíceis, mesmo para os tempos de hoje. O plano não deu certo. A rainha, então, tomou as providências. Atravessou o rio sobre uma teia de linho. E tudo ia bem para os dois fujões, quando o marido traído arranjou jeito de recuperar a mulher.

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A sentença foi fatal. Culpada por ter traído o rei Wamba, ela seria jogada pelo despenhadeiro. Mas, antes de morrer, a rainha jogou uma praga no lugar: “nesta terra não haverá cavalos de regalo, nem padres se ordenarão e putas não faltarão”. Ao que se conta, a maldição pegou. Nem sei sobre os cavalos, os padres ou as putas. Mas, em 2017 toda a área de montanhas, palco desse amor lendário, queimou. Um incêndio que até hoje mostra sua extensão.

Por histórias assim, placas desviadoras na estrada, vale à pena errar o caminho. Para saber que o castelo, durante a Reconquista Cristã, serviu como torre de vigilância contra as incursões muçulmanas, que vinham do Sul. No século XIX, foi base de artilharia contra as invasões francesas. Hoje é miradouro turístico, zonas de proteção de abutres, área de caça de veados e javalis. Ou ainda, se tudo isso não bastar, lugar para se encher os bolsos de azeitonas. Esperando que sejam boas e à salvo, pelo menos elas, da praga derradeira, que ainda ronda o lugar.

Foto do Ariadne Araújo

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