Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.
São os desejos da época. Retirar da terra belos cogumelos silvestres para o jantar. Mas, não sendo exímio(a) conhecedor(a) no assunto, melhor é ir buscá-los já embalados, no supermercado.
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Centenas de mãozinhas curiosas vasculharam uma parcela dos campos alentejanos, no domingo ensolarado, em busca de cogumelos selvagens. Ao meio-dia, o pátio da Herdade Montado Freixo do Meio (em Montemor-o-Novo, distrito de Évora) estava já completamente tomado pelo resultado da colheita do dia. Cogumelos de todos os tamanhos, cores e cheiros. Nunca vi tantos e tão diferentes. Descobri que só em Portugal são mais de mil tipos.
Como flores exóticas, foram um a um sendo agrupados pelo aspecto. Fotografados e exibidos por orgulhosos apanhadores de cogumelos. Mas, saímos da quinta com água na boca e pouca coisa na cesta. Segundo o expert em cogumelos, oitenta por cento do apurado é venenoso ou tóxico. Valeu pela experiência, a convivência e a beleza destas espécies que, no passado, foram considerados em Portugal como “comida de pobre”.
Aparecem depois das primeiras chuvas de outubro e novembro. Vão bem nas sopas, ensopados, massas, risotos. Têm vitaminas, minerais e pouca caloria. Por causa destas vantagens e sabores, saltou para a mesa de todo mundo. Virou tendência. Enriquecem e dão sabor aos pratos do outono e inverno. Para fugir das bandejas de cogumelos – sempre os mesmos, nos supermercados -, muita gente não resiste e se arrisca.
A colheita de cogumelos selvagens é coisa muito antiga. Os romanos chamavam de “pão dos deuses”. Com o tempo, o conhecimento sobre eles foi se perdendo. E os casos de intoxicação e mortes aumentando. A primeira coisa é não se deixar enganar pela beleza. Um bonitão muito abundante nas florestas portuguesas é o Amanita muscaria. Tem o caule branco e um chapéu vermelho, salpicado de manchas brancas. Foi eternizado em “Alice no País das Maravilhas”, do inglês Lewis Carroll. Não mata, mas provoca distúrbios neurológicos.
Colher cogumelos, no entanto, é mais que colher cogumelos. Ou voltar com eles para casa. É ter uma relação íntima e coletiva com a natureza - tirar dela, com respeito, o alimento para uma refeição. E ao fingir que somos bons nisso, passeamos os olhos por flores, castanhas, abelhas, formigas, pássaros, azinhas e sobreiros. Falamos uns com os outros. Baixamos a guarda. Se depois rende ou não um prato de cogumelos, pouco importa. Da colheita, já tiramos a vitamina.
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