
Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
A crise em curso entre Estados Unidos e Brasil possui diversas camadas, sendo a do uso por parte de nacionais de uma potência estrangeira para coagir o Brasil, a mais grave. Entretanto, a crise poderá ser catalisadora de importantes decisões não apenas sobre tarifas e comércio, mas sobre como o Brasil irá se posicionar em um mundo cuja política se mostra mais relevante do que as antigas estruturas multilaterais.
A orientação do “America First” de Trump é tanto uma agenda política doméstica (representada pelo movimento MAGA) como internacional. Neste último, a sua administração busca um reposicionamento dos Estados Unidos e uma mudança da estrutura de custos de suas responsabilidades globais. O tarifaço é apenas uma entre outras medidas coercitivas adotadas, inclusive contra aliados históricos, como o Canadá, o Japão e os países da União Europeia e Otan.
A ação do presidente Trump contra o Brasil pareceu, de início, com o seu movimento mais geral de ameaçar tarifas exorbitantes como estratégia negocial, de forma a conseguir concessões. Porém, o caso brasileiro tem um traço distintivo dos demais: a carta de Trump ao governo brasileiro interfere diretamente na soberania nacional.
A defesa de Jair Bolsonaro por parte de Trump opera como uma restauração de sua imagem pessoal como “perseguido político”, ao passo que usa o ex-presidente como Cavalo de Tróia para tocar em outro ponto que ao fim ao cabo, lhe é essencial: a regulamentação da internet e as Big Techs no Brasil.
Assim, a carta de Trump e seu esforço coercitivo contra o Brasil objetiva, ao mesmo tempo reposicionar um aliado no jogo político - mitigando a influência da China no Brasil e no hemisfério - ao passo que constrói condições para a liberalização do mercado e em particular, recentes decisões da Justiça brasileira que vão de encontro ao interesses dessas multinacionais.
Entretanto, apesar da severidade das questões geopolíticas e geoeconômicas aqui em questão, a mais grave é o lobby direto do filho do ex-presidente e de apoiadores junto a autoridades americanas contra o Brasil. A oposição ao governo Lula, como contra qualquer governo, é necessária e saudável para a democracia. Contudo, conspirar para que uma potência estrangeira puna o seu país é traição. Por sua vez, a verdade se manifesta por atos e não por palavras.
Agora sabemos que o tradicional slogan que anima esse grupo político é na verdade “Brasil Acima de Tudo, Estados Unidos Acima de Todos”. Diante desse quadro de incerteza e perplexidade que se abate sobre nós, esperamos que a crise una o Brasil entre os verdadeiros patriotas, pois como nos lembra Rui Barbosa, “uma nação, que se abandona a si própria, é uma nação oferecida à conquista”.
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