
Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
Na última sexta-feira (12/09/2025) o ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado pela 1ª turma do Supremo Tribunal Federal. Para além da repercussão interna no âmbito político e jurídico, não se pode descurar das potências implicações no âmbito internacional.
No contexto de uma mudança de postura da política externa dos Estados Unidos, abandonando preceitos da ordem liberal que ajudou a construir no pós-Segunda Guerra Mundial, o presidente Donald J. Trump muda com celeridade o tabuleiro global e as suas regras.
Ilustrativo desse evento foi não apenas a imposição de tarifas unilaterais contra inimigos e aliados, dentre os quais o Brasil, mas também a ingerência direta em assuntos internos de democracias amigas. Nesse sentido, a elevação do pacote de tarifas ao Brasil foi seguida da tentativa de coerção e ingerência no julgamento de Bolsonaro, nos debates sobre regulamentação da internet e da atuação das Big Techs no Brasil, várias das quais de origem estadunidense.
Distinto de outros casos globalmente, contra o Brasil viu-se a imposição de sanções contra particulares, representantes de Poderes, como a Lei Magnitsky ao magistrado Alexandre de Moraes. Entretanto, apesar das ameaças, Bolsonaro foi condenado, o que nos leva a indagar como ficam as relações Brasil-EUA.
Vislumbramos três cenários.
O primeiro, positivo, consiste na possibilidade de que outro tema de repercussão doméstica tome a atenção da administração Trump, vindo assim a minorar o peso das sanções e tarifas a fim de relações pragmáticas entre ambos os países. Isso poderia ser produto da vitória do Departamento do Tesouro em sua contenda com o Departamento de Estado, este mais propenso a pressionar o Brasil.
Um segundo cenário, neutro, consistiria na manutenção do atual estado de sanções e tarifas, mantendo o Brasil sob pressão, mas sem tê-lo como prioridade na reorganização político-estratégica hemisférica. A pressão dos lobbies brasileiros e americanos favoráveis à reversão das tarifas poderiam lograr este resultado, especialmente ao sensibilizar as duas casas legislativas.
Por fim, o terceiro e negativo cenário vislumbra a paralisação da ampliação da lista de exceções ao tarifaço, somada com a ampliação dos membros do STF e da administração federal sancionados pela Lei Magnitsky.
Esse cenário se ancora na força do Secretário de Estado junto à Trump e em face da potencial popularidade de suas ações contra cartéis latino-americanos no momento em que a polarização americana se acirra e as eleições de meio de mandato se aproximam. Independente de qual desses cenários prevaleça, sofrerá o Brasil por sua dependência externa. Contudo, apesar da dor, soberania não se negocia e liberdade não se compra.
Análises. Opiniões. Fatos. Tudo do Nordeste e do mundo aqui. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.