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O cessar-fogo em Gaza: prenúncio de paz ou retorno da guerra?
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Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição

O cessar-fogo em Gaza: prenúncio de paz ou retorno da guerra?

O chamado Plano de Paz é estruturado em vinte pontos, detalhando desde o fim das hostilidades, retorno dos reféns, desmilitarização do Hamas e Gaza até o futuro da governança do enclave palestino
Tipo Opinião

Na última semana, o presidente Donald Trump logrou o que nenhum país obteve êxito até o momento: impôs um acordo de paz a Israel e ao Hamas com capacidade vinculante. Apoiado em uma diplomacia com forte dose de atuação pessoal, o presidente americano construiu uma coalizão de líderes árabes e islâmicos, somado a aliados europeus, na construção de um acordo compreensivo para a paz não só em Gaza, mas no Oriente Médio.

O chamado Plano de Paz é estruturado em vinte pontos, detalhando desde o fim das hostilidades, retorno dos reféns, desmilitarização do Hamas e Gaza até o futuro da governança do enclave palestino. Construído com base em propostas pregressas, dentre as quais a do Egito, à luz da interlocução com parceiros regionais, tanto o Netanyahu como a liderança política do Hamas - refugiada em Doha, Qatar, tiveram que aceitar o ultimato de Trump. Entretanto, a erupção de esperança e alegria que se seguiu ao fim das hostilidades, coroada com a devolução dos reféns israelenses vivos a suas famílias, tal como de milhares de palestinos detidos em prisões, essa esperança é agora confrontada com os desafios da implementação das demais fases do acordo.

Israel iniciou o recuo de suas forças para as áreas delimitadas, entretanto, o Hamas já realiza justiçamentos e ocupa áreas antes controladas pelas Forças de Defesa de Israel. A segurança e controle da ajuda humanitária ainda perpassa pela dúvida sobre quem garantirá a sua entrega e segurança nas próximas semanas, tal como diversos corpos de reféns israelenses mortos ainda não foram entregues. Por sua vez, atores como Egito, Arábia Saudita, Turquia e Qatar somam-se aos Estados Unidos na pressão para que o acordo de paz de fato seja implementado, elevando a perspectiva de mudança no panorama político e estratégico da região.

Contudo, importantes questões ainda ecoam sem resposta. Em quanto tempo os tecnocratas palestinos estão aptos a tomar conta da governança de Gaza? Quando a Força Internacional de Estabilização ocupará o possível vácuo de poder que se seguirá ao desarmamento do Hamas? Para além da operacionalização imediata do acordo, vale indagar sobre, afinal, onde está no plano o caminho para a construção de um estado Palestino, já reconhecido por mais de 150 países? Como fica a soberania territorial desse estado no contexto da Cijordânia ocupada por colonos? Por último, mas não menos importante, quem escutará a população de Gaza e Cisjordânia sobre as suas aspirações de futuro? Um cessar-fogo pode ser apenas isso, se esforços maiores e prolongados não criarem efetivamente as condições para a paz, mesmo que conquistada com tanto sangue e sofrimento.

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