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Trump e o retorno da América para os americanos
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Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição

Trump e o retorno da América para os americanos

Nesse quadro mais geral, a Venezuela é não apenas simbólica, como estratégica. Desde 1999 abriu espaço para a influência russa, em sequência chinesa e iraniana na região e desafia sistematicamente os Estados Unidos no Hemisfério
Tipo Opinião
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Acaba de ser publicada a nova versão da Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Documento orientador da grande estratégia estadunidense, nesta nova versão traz importantes novidades sobre a região da qual faz parte o Brasil.

Desde o início de seu segundo mandato, Donald J. Trump tem mostrado que visa reposicionar os Estados Unidos globalmente. Livre dos constrangimentos de buscar uma reeleição e partindo de uma vitória expressiva em números absolutos e no colégio eleitoral, Trump move os Estados Unidos para uma visão de futuro diferente daquela buscada por Democratas e Republicanos antes dele.

Entre os traços distintivos do referido documento, está o retorno da Doutrina Monroe, surgida no século XIX e que propagou a noção de "América para os Americanos". Contudo, distinta da sua primeira versão - visando expulsar da região a influência europeia, os Estados Unidos visam tirar da China o espaço que conquistou na América Latina e Caribe.

Essa concepção, nitidamente intervencionista, já se faz sentir desde o tarifaço contra países como o Brasil à atual pressão militar contra a Venezuela.

No caso do Brasil, apesar dos elementos comerciais das sanções, estava em jogo a posição do Brasil entre o Ocidente Coletivo e os Brics, visto por Trump como um instrumento chinês.

No caso da Venezuela, a alegada operação contranarcóticos a cada dia torna-se mais clara ser montada para apoiar uma mudança de regime em Caracas. Nesse quadro mais geral, a Venezuela é não apenas simbólica, como estratégica. Desde 1999 abriu espaço para a influência russa, em sequência chinesa e iraniana na região e desafia sistematicamente os Estados Unidos no Hemisfério.

No momento em que em seu documento mais relevante de política e estratégia Trump almeja reposicionar os EUA distante de seus compromissos tradicionais de segurança na Europa e Oriente Médio, clamando por mais participação de parceiros asiáticos contra a China, o Hemisfério Americano retorna à posição de baluarte defensivo da geoestratégia dos Estados Unidos no mundo.

Assim, ao final desse primeiro quarto do século XXI parecemos retornar a características geopolíticas do século XIX e início do século XX. Embora no momento em que essa coluna é escrita os EUA não usaram a força militar diretamente contra a Venezuela, devemos entender que a mera ameaça de fazê-lo já configura uma ruptura do status quo, para a qual o Brasil urge se preparar.

Um primeiro passo consistiria em aproximar os universos paralelos da diplomacia e do poder militar sob a égide de uma grande estratégia nacional. Enquanto isso, as placas tectônicas da geopolítica se movem indiferentes à nossa inércia que se crê deitada em berço esplêndido. Ainda há tempo, mas quanto?

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